quinta-feira, 25 de março de 2010

Crítica - Aviso por Causa da Moral e outros Textos

Título: Aviso por Causa da Moral e outros Textos
Autor: Álvaro de Campos [Fernando Pessoa]
Editora: Ática
Nº de Páginas: 53
Preço Editor: 1€ (com o jornal i)

Sinopse: «Continua o Fernando Pessoa com aquela mania, que tantas vezes lhe censurei, de julgar que as coisas se provam. Nada se prova senão para ter a hipocrisia de não afirmar. O raciocínio é uma timidez - duas timidezes talvez, sendo a segunda a ter vergonha de estar calado. (...)
Diga ao Fernando Pessoa que não tenha razão.»

Começa Álvaro de Campos por dizer, neste pequeno livro de pequenos ensaios e opiniões, que os jovens estão bem é calados, e que essa é a única maneira de terem razão. As opiniões são para os velhos! Os novos que aproveitem a juventude, «estudem ciências, se estudam ciências! Estudem artes, se estudam artes! Estudem letras, se estudem letras». Dessa forma directa põe tudo no seu devido lugar, ou como ele achava que seria o devido lugar.

É claro que, como jovem, não podia estar mais do que em desacordo. Senhor Álvaro de Campos, as opiniões não nascem perfeitas em ninguém. Mesmo que as primeiras cometam falácias ou caiam em lugares comuns e erros precipitados, são um primeiro passo inevitável para que, mais tarde, se desenvolvam e... ai! Já estou a cair no mesmo erro do Álvaro de Campos. Passo a explicar:

Apeteceu-me ler qualquer coisa pequenina, depois de uma leitura densa d' As Duas Torres. O que vale é que ainda tinha 6 livros do Fernando Pessoa, que vieram com i no final do ano passado, à minha espera na estante. Pequenos, e dão sempre que pensar. Peguei neste Aviso por Causa da Moral e outros Textos sem qualquer razão especial. Comecei a ler. As primeiras duas páginas ainda escapam, mas depois começa-se a entrar em linguagem técnica demasiado avançada, pensamentos e sequências lógicas que incluem as expressões: «sociologia relativa», «estética não aristotélica», «foco emissor abstracto sensível», entre outros... é claro que tem alguns pontos positivos, como a escrita de Pessoa - perdão! - de Campos não podia deixar de ter. Algumas ideias mostram-se originais. Mas como não-ficção ensaísta que é, tive de esforçar-me bastante para extrair essas pequenas jóias.

No geral, é um livro para ser lido por aqueles que já leram outras obras do autor - mais uma faceta deste génio. Além de saber escrever poesia e manejar a prosa de uma maneira muito peculiar, era um ser inteligente e de ideias próprias bem marcadas. Leitura que recomendo com reservas, mas, apesar de tudo, interessante.

Nota (0/10): 5 - Razoável

Tiago

2 comentários:

susemad disse...

Só comprei um desta colecção e fiquei com pena de não ter comprado mais uns dois que tinha em vista, mas depois deixei passar... Ainda não o li.
Álvaro de Campos é o meu preferido. Gosto imenso da sua poesia!
Boas leituras! :)


P.S. Se tiveres oportunidade vai mesmo ver a «Ilustrarte'09», pois é uma exposição muito agradável e bonita de se ver. Entras no imaginário dos livros infantis e acredita que tem ilustrações bem diferenciadas e extraordinárias mesmo! E além disso é de entrada gratuita, mais um convidativo para não faltares! ;)

Pedro disse...

Tiago, o texto "Aviso por causa da moral" não deve ser lido como apenas mais uma opinião do autor, mas sim dentro do contexto em que foi escrita e para quem foi escrita.

Foi escrita aos estudantes de Lisboa que, nos anos 20, formaram uma Liga que obrigava as autoridades a reprimirem a chamada "literatura de sodoma". Aliás, daí o trecho "Os moços da vida das escolas intrometem-se com os escritores que não passam pela mesma razão porque se intrometem com as senhoras que passam".

Acima de tudo, ele não está a criticar o jovem como ser sem o direito a expressar a sua opinião por falta de experiência de vida. Não penses que ele era tão pragmático! Está sim a atacar o grupo de estudantes que, num gesto de quase hipocrisia, condenaram a literatura mais "directa" da época, como a de António Botto (com a sua obra polémica, abertamente homossexual).

Portanto... Não me sinto ofendido aqui, mesmo como jovem! Afinal, "Ser novo é deixar os outros ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más — boas ou más, que a gente nunca sabe com quais é que vai para o Diabo" =)

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