sexta-feira, 30 de abril de 2010

Novo livro de Murakami para Junho!


Acabou de ser revelado no facebook da editora Casa das Letras que, em Junho, será editado um novo título de Haruki Murakami em português: «O Elefante Evapora-se». Sendo assim, não deixa sombra de dúvidas que livro teremos: será a tradução para a nossa língua do livro de contos «The Elefant Vanishes», o segundo desse género em Haruki Murakami. Já tínhamos «A Rapariga que Inventou um Sonho», e este podemos esperar para Junho!

O livro engloba, pelo menos na sua versão original, 17 contos - o último dos quais dá nome ao livro. Para viciados em Murakami (ou simplesmente apreciadores), esta é uma muito boa notícia, porque o ritmo a que o autor está a ser publicado em Portugal é positivo - mais de dois livros por ano desde 2006.

Quis partilhar a notícia com todos os leitores do blog. Estou mesmo contente! Aproveito ainda para partilhar com os fãs do autor o link de um site onde têm informações actualizadas sobre ele, e críticas aos seus livros (tudo em inglês): www.exorcising-ghosts.co.uk

Tiago

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Começou! | Aproxima-se o aniversário de alguém...


[POST DIVIDIDO EM DUAS PARTES]

E finalmente chegou o ansiado dia do começo da Feira do Livro de Lisboa 2010! Se têm acompanhado o blog então não estão desprovidos de informações acerca daquele que, provavelmente, é a Feira mais importante do país... a edição deste ano trouxe-nos muitas novidades, que tornam a visita ao local ainda mais apetecível. O site da Feira (http://feiradolivrodelisboa.pt/) está muito interessante, permitindo inclusivé ao utilizador fazer uma wist list (embora a lista de livros ainda esteja muito incompleta). Tenho também de referir um post do fórum ESTANTE DE LIVROS, no qual, devido à excelente recolha da equipa e comunidade, se podem conferir muito mais informações acerca de livros do dia do que no próprio da feira -> http://s11.zetaboards.com/Estante_de_Livros/topic/7283645/

Eu já tenho marcada a minha primeira visita (de 3, em princípio) ao local, que será já neste Domingo. Confesso que estou ansioso! Se alguns visitantes do blog já visitaram a Feira, agradecemos comentários sobre a mesma :)

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Entretanto, o meu aniversário está mesmo a chegar (terça-feira), e, a pedido de algumas famílias (da minha, concretamente! e outras pessoas) que me conhecem pessoalmente, resolvi colocar aqui uma lista dos livros que gostava de ter - é que algumas pessoas preferem guiar-se por ela na escolha de um presente... óptimo!! Então aqui vai a (nada curta) lista de livros que gostava de adquirir (sem ordem de preferência):

- A Rapariga que Inventou um Sonho (Haruki Murakami)
- Em Busca do Carneiro Selvagem (Haruki Murakami)
- Dança, Dança, Dança (Haruki Murakami)
- O Dardo de Kushiel (Jaqueline Carey)
- O Jogo do Anjo (Carlos Ruiz Záfon)
- O Braço Esquerdo de Deus (Paul Hoffman)
- Se Acordar antes de Morrer (João Barreiros)
- O Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)
- O Triunfo dos Porcos (George Orwell)
- Pergunta ao Pó (John Fante)
- Um Mundo sem Fim Volume I (Ken Follet)
- A Conspiração dos Antepassados (David Soares)
- Prelúdio (Inês Botelho)
- 333 (Pedro Sena-Lino)
- Birthday Stories (Haruki Murakami)
- Os Miseráveis (Victor Hugo)
- Underground; O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa(Haruki Murakami)
- Norwegian Wood; versão portuguesa (Haruki Murakami)
- Outono em Pequim (Boris Vian)
- O mar que a Gente faz (João Negreiros)
- O Memorial do Convento (José Saramago)
- O Punhal do Soberano (Robin Hobb)
- O Senhor Brecht (Gonçalo M. Tavares)
- Flashman; A Odisseia de um Cobarde (George Macdonald Fraser)

Pronto, decidi ficar-me por aqui. Uma breve nota a quem tenciona dar a esta lista um proveito prático: surpreendam-me com os livros que me derem, não se limitem de forma alguma a estes! Provavelmente estou-me a esquecer de alguns que também gostava de ler, mas isto é sempre assim... boas leituras para todos!

Tiago

terça-feira, 27 de abril de 2010

Feira do Livro: 50% de descontos em Hora H! | Lydo e Opinado em Maio

Excelente notícia, a que a Agência Lusa acaba de dar há pouco mais de duas horas, informada pela equipa técnica do evento: este ano, a Feira do Livro de Lisboa 2010 vai ter uma Hora H, na qual serão praticados descotos de 50% em todos os livros publicados nos últimos dezoito meses (e que tenham mantido o preço fixo neste período de tempo)! Ocorrerá entre as segundas e quintas-feiras das duas semanas e meia de feira, entre as 22:30h da noitee as 23:30h! Assim que li achei uma notícia perfeita, e cuja oportunidade não poderei deixar passar... aproveito para relembrar que as noites na Feira, este ano, serão muito apetecíveis, com concertos de jazz e música clássica pelas 21:30h... e agora com estes descontos de loucos!

A Feira começa já esta quinta-feira, no Parque Eduardo VII, e terminará no Domingo dia 12 de Maio. De realçar um ponto negativo - o site oficial da Feira ainda não está activo, a menos de dois dias do início do evento (embora algumas editoras, como a Porto Editora, Presença, Quidnovi, Esfera dos Livros, já tenham anunciado os seus programas específicos).

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Maio está mesmo a chegar, e o Lydo e Opinado traz muitas leituras e animação aos seus leitores. Iremos manter as nossas já habituais rubricas, neste mês que será especial principalmente devido à Feira do Livro de Lisboa 2010, que vamos acompanhar de perto, e a qual iremos visitar (eu, certamente, mais do que uma vez). Então o que temos programado para o próximo é:

Dia 1 - Entrevista Exclusiva a Pedro Sena-Lino (autor do romance 333 e de dois manuais de Escrita Criativa, o escritor disponibilizou-se a responder às nossas perguntas, com respostas que vão além da linguagem comum, e são literatura quase por si só. É ler para crer: uma entrevista cheia de metáforas...)

Dia 3 - Passatempo «333» (em conjunto com a Porto Editora, teremos para oferecer um exemplar do romance de Pedro Sena-Lino, autor que terão oportunidade de conhecer melhor através da entrevista).

Crónicas - As nossas crónicas irão aprofundar o tema «Proximidade entre Autores e Leitores». Em mês de Feira do Livro, sessões de autógrafos, iremos meditar acerca da proximidade que se regista entre os escritores e os leitores, tanto em tertúlias, como através das redes sociais na internet. Ficamos a ganhar com um certo distanciamento, ou a proximidade traz vantagens?

Esperemos que gostem da programação aqui do espaço para o próximo mês. Obrigado por nos visitarem!

Tiago

sábado, 24 de abril de 2010

Um pequeno jogo

Este jogo já não é qualquer novidade para vocês, penso eu. Tirei a ideia do blog da irmã do Tiago e espero que ela não se importe que eu o coloque aqui. Mas achei o jogo tão interessante, que pensei em partilhá-lo convosco.
Quero que peguem no livro que estão a ler, abram na página 100 e que copiem o segundo parágrafo para aqui. No fim, deixem a identificação do livro, por favor. Eu mesma vou fazê-lo:

«- Estou mais molhado do que faminto...»
in A Glória dos Traidores por George R. R. Martin

Espero que se divirtam!

Sara

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os Livros estão em festa...!


Então não é que, acabado a O Meu Quarto, encontro em Cima da Minha Cama uma festa de livros em pleno decorrer? Três camadas de livros que ocupavam toda a extensão do plano, encavalitados, dançando ao som de uma música que não consegui identificar! Riam-se, falavam, dançavam, festejavam... festejavam o quê?, pensei eu. Foi o que perguntei à «Senhora da Noite e das Brumas», que estava mais próxima da entrada. Ela logo me respondeu, com a ajuda do «Menino que Sonhava Chegar à lua», que hoje era o Dia Mundial do Livro.

Eu: Ah, hoje é o dia mundial do livro? Como é que me pude esquecer disso...

Crónica do Pássaro de Corda: Provavelmente deixaste-te envolver demasiado pelas minhas leituras surreais, e a tua cabeça ainda não se recompôs totalmente...

A Criança que Não Queria Falar: Se é problema psicológico, podes juntar-te a mim que eu ajudo a resolver casos problemáticos e...

Eu: Não, não se incomodem! Mas não podiam ter escolhido um local melhor para fazer uma festa?

Os Pilares da Terra: Ainda pensei em fazermos na catedral do Tom, mas achei que seria... intrusivo.

A Sombra do Vento: E não me venham dizer que eu também não dei a excelente ideia de fazermos esta festa no Cemitério dos Livros Esquecidos... lembremo-nos deles neste dia, aliás!

AVATAR: A Rainha Luana também tinha tudo pronto no seu salão, mas houve uns quantos que preferiam fazer em Cima da Cama.

Eragon: Eu, por exemplo! Já passei por tantas mãos, fui emprestado e lido por tanta gente que um livro começa a desgastar-se e a ficar velho, não é?

A Filha da Floresta: Concordo completamente, Eragon!

Eu: Então e comida, quem é que ficou responsável?

Crepúsculo: Eu trouxe uma ementa à base de sangue vampírico, e maçãs, mas parece que eles não são muito apreciadores...

As Duas Torres: E eu trouxe aquele paõzinho dos elfos, só que pelo caminho não resisti e comi-o... de modo que só ficou o anel, mas isso é muito duro para trincar, já lhes disse.

A Muralha de Gelo: Cá eu trouxe mesas e mesas de iguarias sem igual! Veado tostado com aroma a especiarias das Ilhas de Verão, salmão cozido com batatas de Correrrio, temos também um prato especial de "lobo" na brasa... hehehe...

Eu: Vou fingir que percebi isso, Muralha. Então olhem, divirtam-se, e um bom Dia Mundial do Livro para todos!

Auto-Retrato do Escritor enquanto Corredor de Fundo: Eu ainda tenho de ir fazer a minha maratona do dia, por isso de qualquer das formas estou quase de saída...

Sputnik, Meu Amor: Quem vem comigo andar na roda gigante??

A Glória dos Traidores: Não há aí por aí nenhum casamento divertido para eu animar um bocadinho? MUAHAHAH.

E pronto,neste ponto abandonei a festa. Mas consta-me que eles lá continuaram longas horas. Espero que em vossas casas, leitores do Lydo e Opinado, em Cima das Vossas Camas, também encontrem todos os vossos livros em festa. Parabéns, LIVROS!!!

Tiago

Nota: Os diálogos de cada livro são piadas que, quem leu cada um, irá certamente entender!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Quando se está doente...


Se calhar depende do tipo de doença de que estamos a falar, mas pelo menos esta minha constipação forte que já me dura deste segunda-feira, e que me tem feito passar os dias em casa, não me tem dado vontade nenhuma de pegar no livro que estou a ler actualmente - O Deus das Pequenas Coisas. Continua pousado na mesa de cabeceira, sem que lhe tenha tocado alguma vez, porque simplesmente não me consigo concentrar na sua leitura.

O curioso é que, quando estou bem de saúde, penso que a situação vai ser a inversa: quando me constipar e tiver de ficar de cama, ou qualquer coisa assim, ninguém me parará enquanto não acabar de ler um livro, porque pouco mais poderei fazer que não ler. Mas o cansaço, a dificuldade em respirar, a concentração voa para outros lados...

Hoje já estou melhor e espero conseguir ler pelo menos umas quantas páginas. Também acontece com vocês, imagino?... Aproveito para pedir desculpa a todos os visitantes do Lydo e Opinado pela falta de actualizações durante estes últimos quatro dias que passaram, mas este meu estado de saúde não me permitiu actualizar o blog. Adio também para amanhã a novidade da semana!

Tiago

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Crítica - Pinball, 1973

Título: Pinball, 1973
Autor: Haruki Murakami
Tradutor: Alfred Birnbaum
Editora: Kodansha English Library
Nº de Páginas: 179
Preço Editor: -

Sinopse: The second book in the "Trilogy of the Rat" series, it is preceded by Hear the Wind Sing (1979) and followed by A Wild Sheep Chase (1982).
Very much a continuation of Hear The Wind Sing with the familiar site (J's bar) and characters (J and Rat). The novel is a collage of everyday episodes of the single 24-year-old Tokyoist, his disinterest in his translation job, his asexual relationship with the twin sisters 208 and 209, and his half-estrangement from social world. He oscillates between ceaseless pursuit of interests (midnight visit to Pinball machine) and resignation (painless farewell to the twins), and at times emerges from the cool, semiotic space of his apartment to bath in the autumn light.

Falar da experiência que é ler Haruki Murakami para quem nunca o leu é complicado, talvez porque até hoje não encontrei outro autor a quem o pudesse comparar. Imaginem o quotidiano japonês, a vida normal e real com personagens normais e em tudo iguais a nós (com as próprias variantes culturais). De repente entra Murakami em cena, despeja um saco de elementos surreais e alternativos por cima da vida - por exemplo, mulhares enigmáticas, telefonemas anónimos, desaparecimentos de pessoas e objectos, gatos e poços por todo o lado, etc, etc - e, o mais incrível, é que a personagem principal lida com isso com a maior das naturalidades, como se já o prevesse. É este o universo de Realismo Mágico do senhor Haruki Murakami. Um mundo de muitas perguntas que não procuram sequer resposta.

Tal como em todos os livros que li dele (excluindo o de não-ficção, do seu Auto-Retrato), é esta a paisagem de fundo nas suas obras. Em Pinball, 1973 seguimos as mesmas personagem que tinham sido introduzidas no primeiro livro do autor, Hear the Wind Sing: o narrador presente sem nome, J, e O Rato (por sua vez este último dá nome à trilogia, de quatro livros, em que este se insere). Neste em particular temos uma divisão da novela em duas frentes: a do narrador, e a do Rato. Estão separados geograficamente, embora não tenham esquecido a sua amizade. O primeiro sofre os efeitos da onda surrealista de Murakami, ao mesmo tempo que procura por uma determinada máquina de Pinball na qual se viciara depois de um acontecimento muito mau na sua vida; e O Rato, coitado, tem um ataque de tristeza e solidão, e numa odne de melancolia explícita (rara em Murakami) prepara-se para tomar uma decisão importante da sua vida.

É neste equilíbrio que se desenrola a acção. Quis-me parecer, no entanto, que apenas na segunda metade é que finalmente Murakami encontra o seu estilo, ao fim de livro e meio escrito. E, devido à diminuta extensão da obra, ficamos com a sensação de que, quando estava a começar realmente a melhor parte e o melhor ritmo, é que termina. De resto, temos três elementos do livro que me chamaram especialmente a atenção: As Gémeas; O armazém das galinhas; e as cenas no bar do J. Não me alongo mais em relação a isso, para quem não leu não faria muito sentido.

Concluindo, este é um livro já tipicamente murakamiano, com a atmosfera típica, a qual nos prende, e que quando saio dela só me dá vontade de escrever, como se me tivesse enchido de inspiração. Todo o livro tem uma musicalidade que não me passa despercebida, um ritmo muito próprio. Mas Haruki insiste em não o publicar fora do Japão, sendo que a suposta justificação é que o considera, assim como ao primeiro livro, trabalhos de «natureza inferior». Este Pinball, 1973 já está longe de ser inferior. É uma opcção cara, mandar vir de lá os livros, e apenas compensa a quem já experimentou e gostou do estilo. A mim, já me conquistou há muito.

Personagens Preferidas: As Gémeas. E J prende-me, de alguma maneira.

Nota (0/10): 8 (Muito Bom)

Tiago

quinta-feira, 15 de abril de 2010

[Crónica] Os Tradutores - Sara

Fotografia tirada daqui.

Penso que, para se dar a devida importância a uma obra, é preciso conhecer-se todo o processo de criação desta. Desde o autor, à editora e também à tradução, quando se fala em livros estrangeiros. Não basta o autor ser bom, quando, por exemplo, a editora cria uma capa horrível para o livro. Penso que, devido a esse factor, poucas pessoas se dariam ao trabalho de o ler, pensando que a escrita teria a mesma qualidade que a capa. O mesmo acontece com a tradução. Não basta o autor e a capa do livro serem bons. Se a tradução for má, o livro é bem capaz de perder o seu valor. No entanto, poucas pessoas pensam nesse factor. Eu mesma, até há pouco tempo, não pensava assim.

Só comecei a pensar assim quando realmente percebi o trabalho que os tradutores têm, que, por sinal, não é nada fácil. Mas, tal como muitas outras coisas no mundo, os tradutores não recebem o seu devido valor.. E acredito que essa desvalorização seja muito desconfortável para os tradutores que, apesar de tudo, têm um trabalho difícil e que exige excelência.

Há que frisar que desde que entrei no Lydo e Opinado, tornei-me numa leitora muito mais culta e entusiástica. E confesso também que a tradução é uma das minhas opções de profissão, no caso de não conseguir concretizar o meu quase impossível sonho.

Sara

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Resultados do passatempo «A Guerra dos Tronos»!


Desde já muito obrigado a todos os que participaram neste passatempo do livro «A Guerra dos Tronos». Confessamos que estávamos à espera de um pouco mais de participações (desta vez ficámo-nos pelas 55), mas isso talvez se deva ao facto de, além do livro não ser uma novidade, ó facto de ter de se ler um excerto possa não apelar a toda a gente... como houveram muitos erros nas perguntas, aqui vamos expôr as respostas (apenas 8 participações totalmente certas!):

1 - Os membros da Patrulha da Noite vestem-se de negro.
2- Ao todo foram encontradas 6 (seis) crias de lobo.
3 - Quem vem a caminho de Winterfell é o Rei (Robert).
4 - Viserys quer forçar a irmã a casar-se com Khal Drogo.

A Saída de Emergência, a quem queremos novamente agradecer por todo o apoio que tornou possível o passatempo, sorteou entre os que acertam as perguntas o grande vencedor, que foi...

Dália Antunes, de Algueirão!

Muitos parabéns, Dália! Espero que te vicies rapidamente naquela que, digo eu, é a melhor saga de fantasia que jamais li. Quanto a todos os outros participantes, peço-vos que não desanimem. Se tudo correr bem vamos continuar a ter passatempos aqui no blog, e algum dia há de ser a vossa vez, tenho a certeza. A todos aqueles que não leram ainda «A Guerra dos Tronos», deixo a sugestão de, numa das Feiras do Livro de Lisboa ou do Porto, que se aproximam, adquirirem este primeiro volume das Crónicas de Gelo e Fogo. Imperdível.

Tiago

terça-feira, 13 de abril de 2010

[Crónica] Os Tradutores - Tiago


O tema «Tradução» é dos mais subiu na minha ordem mental de importância nos últimos tempos. Há alguns anos, quatro ou cinco, desde que comecei a ler livros estrangeiros - acho que com o livro Eragon. Ora Eragon foi escrito por Cristopher Paölini. Adorei o livro, na época, fez-me abrir os horizontes literários, fez-me aprender a gostar de ler, gostar de entrar numa livraria e comprar um novo livro que gostasse. Devo muito ao livro. Até hoje, não pensei sequer na questão de quem o traduziu. Vou ali buscar o livro... cá está.

Escondido, na página dos créditos, em letra pequena, entre a autoria do Design da Capa e a da Composição Gráfica, o nome da tradutora: Andrea Alves Silva. Anos depois de ter lido um dos livros que mudou a minha vida, sei o nome da pessoa que o traduziu. Inesperadamente, descubro por acaso que a mesma senhora traduziu também "A Libertação do Tigre", de Kate diCamillo, livro infantil/juvenil que li também há muito tempo e gostei. Isto para chegar exactamente onde...? À discriminação que sofrem os tradutores portugueses de livros estrangeiros.

Em sites de editoras podemos pesquisar por "Obra", "Autor", "ISBN", "Preço", etc, etc... nem em um só dos que consultei encontrei o separador "Tradutor". Nos livros que lemos a grande maioria ESCONDE o nome do tradutor em letras pequenas na página dos créditos. Nunca vi tradutores sentados em mesas nas Feiras do Livro de Lisboa, para partilharem experiências com os leitores. As pessoas lêem livros inteiros, podem ficar a adorar um determinado, e no entanto não sabem o nome da pessoa que o traduziu. E se a questão não parece grave, passo a explicar porque é que É:

É que os tradutores, na minha sincera opinião, têm o duplo trabalho de um autor. Primeiro, são privados do processo criativo de construção de enredo, no qual reside grande parte do gozo de um autor ao escrever. Segundo: além de terem de reescrever todo um livro de uma língua para outra, têm de tentar encontrar o estilo do autor e passá-lo com veracidade para um país com outras expressões e sentimentos. Há que encontrar uma equivalência no estilo, na forma de escrever, há que reeiventar todo um método de escrita. E depois, basta pensar que cada palavra de um livro traduzido que lemos foi escolhida pelo tradutor especificamente, aquele sinónimo particular. Uma má tradução pode estragar um excelente livro. O mesmo ao contrário - um livro pouco razoável pode ser salvo por uma tradução habilidosa.

Não estou ligado a tradução de maneira alguma, nunca fiz nada que se parecesse, mas fico contente quando vejo certas e determinadas iniciativas: a editora AHAB decidiu, e tão bem, colocar em todas as capas dos seus livros o nome do tradutor com o devido destaque; blogs literários que colocam na lista de características de um livro a parcela 'Tradução de:', e os referem nas críticas; e uma cada vez maior divulgação de alguns nomes da tradução nacional, nomeadamente de Jorge Candeias, já tão conhecido por cá entre os amantes da literatura fantástica.

É a ele e a Maria João Lourenço (tradutora de Haruki Murakami) que quero dedicar este post. Tenho a certeza que os autores que traduzem não teriam o mesmo impacto na língua portuguesa se não fosse a vossa ARTE. E também a Andrea Alves Silva, que já li há tanto tempo, mas só hoje "conheci". E a todos os Tradutores Anónimos que, escondidos em letras pequenas em páginas que passam ao lado na atenção, são alquimistas das letras, transformando todo um mundo de boa literatura internacional na nossa bonita Língua Portuguesa.

Vamos mudar esta realidade?

Tiago

domingo, 11 de abril de 2010

Crítica - Dracula

Nome: Dracula
Autor: Bram Stoker
Editora: Penguin Classics
Páginas: 402
PPV: 10,85 €

Sinopse: "Count Dracula's castle is a hellish world where night is day, pleasure is pain and the blood of the innocent is prized above all. Young Jonathan Harker approaches the gloomy gates with no idea of what he is about to face...
And back in England eerie incidents are unfolding as strange puncture marks appear on a young woman's neck... Can Harker's fiancée be saved? And where is the evil Dracula?"


Tal como já tinha referido no outro post, ler este livro em inglês foi um desafio enorme. Cheio de linguagem erudita e de muitas palavras que eu nem sequer sabia que existiam, a leitura tornou-se muito mais lenta. No entanto, não foi desanimador. O livro é escrito a partir de diários de várias personagens e de recortes de jornais, tornando-se diferente de todos os outros livros que eu já li.

O livro começa imediatamente com muita acção, o que me deixou muito curiosa. De seguida, vários acontecimentos estranhos se sucedem e, só mais lá para a frente, é que percebi o porquê. No entanto, lá mais para o fim, o livro começa a tornar-se um bocado repetitivo e entediante. Reparei no facto de eles se referirem imenso a Deus e, ao longo do livro, estão sempre a dizer «Que o nosso destino esteja nas mãos de Deus.» Ora, quem lê isto já tem uma pequena ideia que o bem vai triunfar sobre o mal. Por isso, o final do livro acaba por não ser uma grande surpresa.

Para além de não ter sido uma grande surpresa, estava à espera que o final também fosse melhor. Depois de toda aquela aventura até ao Castelo do Drácula, pareceu-me que o final foi demasiado pobre e fácil, apesar de ter morrido uma personagem.

Tendo em conta que este livro foi escrito quando ainda os vampiros não estavam na moda, dou algum crédito a Bram Stoker por todos os elementos misteriosos à volta da história.

Personagens favoritas: Jonathan Harker, Mina Harker, Van Helsing, Lucy, John Seward.

Nota: 7/10 - Bom

Sara
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Hoje é o último dia para participares no passatempo «A Guerra dos Tronos» aqui no blog. Não percas esta oportunidade. Tens até à meia-noite!

sábado, 10 de abril de 2010

Crítica - O Nome do Vento

Título: O Nome do Vento
Autor: Patrick Rothfuss
Tradutor: Renato Carreira
Nº de Páginas: 976
Preço Editor: 19,90€

Sinopse: Da infância como membro de uma família unida de nómadas Edema Ruh até à provação dos primeiros dias como aluno de magia numa universidade prestigiada, o humilde estalajadeiro Kvothe relata a história de como um rapaz desfavorecido pelo destino se torna um herói, um bardo, um mago e uma lenda. O primeiro romance de Rothfuss lança uma trilogia relatando não apenas a história da Humanidade, mas também a história de um mundo ameaçado por um mal cuja existência nega de forma desesperada. O autor explora o desenvolvimento de uma personalidade enquanto examina a relação entre a lenda e a sua verdade, a verdade que reside no coração das histórias. Contada de forma elegante e enriquecida com vislumbres de histórias futuras, esta "autobiografia" de um herói rica em detalhes é altamente recomendada para bibliotecas de qualquer tamanho.

Terminei de ler esta magnífica obra e confesso que fiquei extremamente interessada em saber o que Patrick Rothfuss nos poderá trazer num segundo livro. Se continuar com a excelente qualidade que demonstrou em "O Nome do Vento", tenho a certeza que será um sucesso ainda maior e conseguirá alcançará ainda mais pessoas com a sua história épica.

Não consigo escolher uma parte determinante em toda a história pois todos os acontecimentos que envolvem a personagem principal, acabam sempre por se revelar essenciais à sua progressão. Ou regressão, conforme os casos.

Kvothe é extraordinário, é uma personagem construída em alicerces muito fortes, com uma estrutura que acaba por envolver o leitor, que o prende a cada passo que este rapaz vai dando. E Patrick Rothfuss tem uma ideia genial, uma ideia primitiva que vai sendo desenvolvida ao longo do livro: ninguém sabe quem é realmente Kvothe, vamos descobrindo enquanto a história avança. Pelas linhas escritas pela editora, ocorreu-me que o livro começasse de maneira diferente mas uma vez já lido, o resultado acabou por ultrapassar as minhas expectativas e colocá-las num nível muito mais elevado.

Elodin é outra das personagens mais curiosas que encontrei. Tem aquele aspecto louco e simultaneamente lúcido que o faz encaixar-se perfeitamente na estrutura em que está inserido. Se querem saber mais sobre ele, têm mesmo de ler o livro. Acreditem em mim quando digo que neste caso a loucura, não é tão má como parece.

E a última das personagens que refiro não me chamou a atenção nos primeiros instantes mas depois até comecei a gostar dela e penso que num segundo livro poderá dar que falar. Refiro-me a Fela. Muito discreta, simpática, ali sempre um pouco misteriosa... Aposto que a sua importância ainda não foi realmente explorada.

Antes de terminar, quero ainda dar especial atenção aos interlúdios feitos ao longo da obra e a Bast. O objectivo dele foi revelado nas últimas páginas e estou para ver até que ponto o conseguirá atingir. Os interlúdios ajudam a que o leitor volte realmente à realidade, regresse ao presente e deixe um pouco o passado. Simplesmente inesquecível.

Nota atribuída (0 a 10) - 10 (Perfeito)

Personagens favoritas - Já referidas

Patrícia

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Crítica - O Evangelho do Enforcado

Título: O Evangelho do Enforcado
Autor: David Soares
Editora: Saída de Emergência
Nº de Páginas: 358
Preço Editor: 18,85€

Sinopse: «Nuno Gonçalves, nascido com um dom quase sobrenatural para a pintura, desvia-se dos ensinamentos do mestre flamengo Jan Van Eyck quando perigosas obsessões tomam conta de si. Ao mesmo tempo, na sequência de uma cruzada falhada contra a cidade de Tânger, o Infante D. Henrique deixa para trás o seu irmão D. Fernando, um acto polémico que dividirá a nobreza e inspirará o regente D. Pedro a conceber uma obra única. E que melhor artista para a pintar que Nuno Gonçalves, estrela emergente no círculo artístico da corte? Mas o pintor louco tem outras intenções, e o quadro que sairá das suas mãos manchadas de sangue irá mudar o futuro de Portugal.
Entretecendo História e fantasia, O Evangelho do Enforcado é um romance fantástico sobre a mais enigmática obra de arte portuguesa: os Painéis de São Vicente. É, também, um retrato pungente da cobiça pelo poder e da vida em Lisboa no final da Idade Média. Pleno de descrições vívidas como pinturas, torna-se numa viagem poderosa ao luminoso mundo da arte e aos tenebrosos abismos da alienação, servida por uma riquíssima galeria de personagens.»

Pelas críticas espalhadas pela internet, e pelas próprias afirmações da editora, eu estava à espera de algo bom. Mas não de algo tão bom como vim a descobrir. Ao princípio estranha-se... somos puxados para a idade média portuguesa, e para toda a brutalidade que esta nos oferece. A isso adicionam-se elementos fantásticos, que tocam no paranormal. Foi um grande puxão para mim. Há muito tempo que não lia um romance histórico, e este «O Evangelho do Enforcado» tratou de me agarrar com força e fazer-me regressar aos tempos medievais, expôr-me às descrições cruas que marcavam a época. Mas este estranhar, marcado até por uma certa repulsa ou choque através das descrições, foi só no começo.

Primeiro estranha-se, depois... depois começamos a apreender este novo género que mistura a História com a Fantasia. Embalados pelas frases maravilhosas de David Soares, que marcam bem aquilo que precisamos de saber, com um estilo muito próprio, vamos avançando nas páginas, entrando no mundo, descobrindo mais e mais personagens, desconstruindo ideias dogmáticas que temos, e deixando-nos levar, observando os acontecimentos de muito perto.

O romance gira à volta dos famosos Painéis de S. Vicente, a obra mais enigmática de toda a história da pintura portuguesa. Acontece que acompanhamos a vida do seu provável pintor, Nuno Gonçalves, desde o nascimento deste. Psicopata de nascença, Nuno rapidamente se apercebe que gosta da morte e de tudo o que a ela se associa. E um encontro assustador revela-lhe o triste destino que está reservado para ele. Depois somos levados à corte do rei D. João, e conhecemos os seus filhos Eduarte, Pedro, Fernando e Henrique (o famoso Infante D. Henrique). Este último mostra-se um homem preverso e enigmático, com uma personalidade muito própria, distante daquilo que pensamos sobre ele. Em seguida somos apresentados a um conjunto de prostitutas, que não se conseguem imaginar longe da vida em que se meteram para conseguir sobreviver. E mais, muito mais personagens, enquanto a história vai convergindo para a criação dos Painéis.

Está confirmado: David Soares é um grande escritor português. Alia o Romance Histórico ao Romance Fantástico, no resultado de uma extensa pesquisa que se revela numa larga bibliografia. Está confirmado: «O Evangelho do Enforcado» é uma obra que quebra dogmas no nosso pensamento, e os abre para novas possibilidades acerca da história - nada é certo. Está confirmado: este livro surpreendeu-me e muito. Primeiro estranhei-o, depois deixei-me levar por ele, vivi no século XV durante três semanas. As imagens que a escrita de David Soares nos transmite dão para fazer um filme. Um livro cruel, pesado, dark... mas adorei.

Personagens Preferidas: Nuno Gonçalves, Infante D. Henrique.

Nota (0/10): 9 - Excelente

Tiago

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mais novidades da Feira!


Ocorreu ontem de amanhã uma conferência de imprensa da Feira do Livro de Lisboa 2010, que contou com a presença de Paulo Teixeira Pinto, o presidente da APEL. Nela foram divulgadas as informações que já demos em outro post, acerca dos horários e datas. Aqui relembramos: Parque Eduardo VII, de 29 de Abril a 16 de Maio, durante a semana abrirá ao 12h30m e fechará às 23h30m, e aos fim-de-semanas e feriados abrirá às 11h e fechará à mesma hora. Só que a conferência de imprensa trouxe mais algumas, embora não muitas, novidades...
  • Na edição deste ano contaremos com 237 pavilhões, divididos por um total de 120 editoras.
  • Durante a semana, entre as 21h30m e as 22h15m vão haver, no local da feira, concertos de música clássica, brasileira, e jazz.
  • Durante todo o período da feira, e diariamente, serão realizadas auditorias aos pavilhões, para serem verificados preços e normas que devem ser cumpridos.
Quero dar destaque à segunda novidade dada, acerca da música! Acho uma excelente ideia. Existem, aliás, muitos leitores que lêem enquanto ouvem música, e estes estilos são agradáveis de se ter como música de fundo. E, agora que penso nisso, talvez um dos poucos defeitos que a Feira do Livro de Lisboa tivesse fosse esse silêncio, essa falta de música (não estou certo se altifalantes tocavam, mas música ao vivo é sempre diferente!). Excelente! Espero que consiga atrair ainda mais gente à Feira.

Podem ainda acompanhar as novidades da FLL 2010 no seu site oficial (a abrir brevemente), no twitter e no facebook. Que acharam das novidades?

Tiago

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Novidade da Semana - O Miúdo que Pregava Prego numa Tábua

Nome: O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua
Autor: Manuel Alegre
Editora: D. Quixote
Nº de Páginas: 112
Preço Editor: 10,8€

Sinopse: «Entretanto o miúdo cresceu, quer seja o que pregava pregos muito direitos numa tábua, quer o que engoliu os comprimidos do avô, quer o que se rebelou contra a humilhação das mangas curtas, quer os outros todos ou eu próprio, que não sei se fui cada um deles menos um, este que conta e tem tendência ora a efabular ora a querer ser tão verdadeiro que põe em dúvida o que de facto foi e até de si mesmo suspeita. Seja ele quem for, o certo é que o miúdo cresceu. E agora está aqui (mas ainda será ele?) a ver se consegue escrever um livro, sem saber o quê nem como. Pois que outro livro pode escrever-se? Vida de tantas vidas na tão curta vida.»

Esta novela acabadinha de ser publicada pela D. Quixote é um livro pequeno, de 112 páginas e letra grande, que dá vontade de ler. Embora a sinopse explore, por um lado, um certo sentido auto-biográfico (ou pelo menos é a ideia que me transmite), sinto també um distanciamento em relação à personagem principal. Um miúdo que pregava pregos numa tábua, e que era como qualquer miúdo. Nunca li nada de Manuel Alegre, a não ser alguns poemas seus conhecidos. Esta novela, pela sua pequena dimensão, e pelo tema que escolhe abordar, cativa-me, e pode ser que a leia.

Tiago
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Não esquecer o passatempo «A Guerra dos Tronos», a decorrer até Domingo! Esta saga de fantasia é excelente, e mesmo quem diz não apreciar fantasia a devia experimentar. Falo a sério.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Dracula - Um desafio

Fotografia tirada daqui.

Quando peguei no Dracula, nunca pensei que estivesse a pegar num desafio com as minhas próprias mãos. A verdade é que eu sempre quis experimentar ler um livro noutra língua, especialmente em inglês, mas ainda não tinha tido a oportunidade de o fazer. Agora que a oportunidade me tinha sido dada, estava bastante entusiasmada. No entanto, logo nas primeiras páginas, comecei a ficar desmotivada. Nunca pensei que fosse tão difícil ler algo noutra língua. Especialmente noutra língua em que falo fluentemente. Penso que as expressões mais clássicas são aquelas que eu tenho de ler cinco vezes para conseguir perceber. Expressões como «Hey guv'nor whata doin'?» Deparei-me com imensas dessas. E acho que foi isso que me atrasou mais.

Eu pretendia ler este livro em menos de um mês, coisa que não consegui fazer. Habituada a ler vinte páginas por noite, ao início lia apenas seis. Com a regularidade da leitura, passei para oito. E agora atinjo as dez. Mas nunca passo daí. É difícil tentar passar, sequer.

E vocês, já leram algum livro noutra língua? Se sim, qual? E como foi a experiência? Gostava de saber se sou a única que ficou surpreendida consigo própria.

Boas leituras!

Sara

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ler nas férias...

[Fotografia tirada daqui]

Férias da Páscoa, para todos os estudantes do ensino básico e secundário, são sinónimo de duas semanas de pausa nas actividades lectivas. Para alguém que, como eu, adora ler, significaria ainda um aumento no ritmo de leitura. Curiosamente, comigo, não. É isso que venho falar hoje. Em como as férias não me ajudam a ler.

Ora repare-se no ritmo que tinha antes do início desta interrupção das aulas, e compare-se com o que tenho actualmente. É que antes conseguia ler todos os dias mais do que um capítulo, e nestasemana e meia que já passou li muito menos. Um total de cem páginas no livro que me encontro a ler presentemente, «O Evangelho do Enforcado» de David Soares. E tal moderar na velocidade de leitura não se deve ao facto do livro não ser entusiasmante - pelo contrário! Está a ser uma leitura que apela ao ritmo, mas simplesmente eu não o consigo acompanhar.

Porquê? Porque é que, sempre que há férias, eu não consigo ler tanto? Já pensei em vários motivos: talvez porque quando tenho mais tempo livre acabo por me perder dentro dele, e distraio-me com outras coisas; porque como tenho mais tempo, vou adiando a leitura para a tarde, para a noite, e depois acabo por não ler quase nada; porque durante o tempo de aulas, sobre pressão, a leitura acaba por funcionar como tubo de escape, enquanto que das férias não preciso de me refugiar de nada; porque... não sei. A resposta é essa: não sei.

Acontece o mesmo a mais alguém? Conselhos para eu ultrapassar este meu «bloqueio»?...

Tiago
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Em relação ao Passatempo «A Guerra dos Tronos», quero relembrar que continuar aberto até Domingo. Ler o excerto é, além de surpreendente e divertido, algo rápido. Quarenta páginas lêem-se facilmente em uma hora. E mesmo que não sejas o vencedor e não ganhes o exemplar, ficas a conhecer a melhor saga de fantasia de sempre. Que tenho a certeza que não vais querer perder!

sábado, 3 de abril de 2010

Passatempo - A Guerra dos Tronos


Chegou o dia do passatempo! Tens a oportunidade de ganhar um exemplar d' A Guerra dos Tronos. Tanto eu, como a Patrícia, como a Sara, já lemos este livro e, acredita, queríamos estar no teu lugar - para podermos ler novamente o livro pela primeira vez. Ainda não começaste a ler As Crónicas do Gelo e Fogo? Então, primeiro que tudo, carrega aqui, para teres uma ideia da qualidade daquilo que estamos a falar.

A Saída de Emergência, a quem agradecemos desde já pela grande colaboração, disponibilizou um exemplar para passatempo. Para participarem, só têm de ler o prólogo e os três primeiros capítulos deste livro, disponibilizados no site da editora. Carreguem aqui para serem redireccionados para a página do livro (procura mais para o fundo da página um link que diz 'LEIA UM EXCERTO DESTA OBRA'), ou aqui para ires directo para o PDF. No questionário abaixo, têm quatro perguntas: uma para o prólogo, outra para o 1º capítulo, e assim sucessivamente. Assim que começarem a ler vão rapidamente aperceber-se que estão num livro muito bom. É viciante.

Só aceitamos participações de território nacional (continente e ilhas), e apenas será aceite uma participação por pessoa e morada. Voltamos a repetir que os dados que disponibilizares no questionário, nomeadamente a morada e o email, apenas serão usados para o passatempo, e apagados posteriormente. Tendo em conta que neste passatempo é necessário ler o excerto, o prazo será maior: até Domingo, dia 11 de Abril! Tens muito tempo para ler aquelas 40 páginas... e vais ver que passam a correr. O vencedor é sorteado entre aqueles que acertarem as respostas. Boa sorte!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Entrevista Exclusiva a Jorge Candeias!

Primeiro dia do mês significa entrevista exclusiva no Lydo e Opinado. Desta vez, a Jorge Candeias! Tradutor das obras de George R. R. Martin e de Robin Hobb (e ainda outros) para a língua portuguesa, autor de múltiplos contos, e no fundo um homem ligado à literatura. São 14 perguntas, com respostas extensas e muito interessantes, que irão pôr a pensar os leitores do blog. Esperemos que gostem.

1. Jorge Candeias, formou-se em Biologia Marinha e Pesqueira. Onde surge, perante este curso, a envolvência com a escrita a e a tradução? Desde muito cedo que tem um gosto por ambas as coisas?

O envolvimento com a escrita e a tradução não tem nada a ver com o curso. Eu sempre tive muitos interesses, desde pequeno. Muitos e bastante díspares, a tal ponto que para mim foi um sarilho dos diabos quando cheguei à altura de escolher um curso. Biologia não foi o primeiro em que entrei; comecei por ir estudar uma das minhas paixões para o estrangeiro: física… mas rapidamente cheguei à conclusão de que, embora gostasse imenso da parte conceptual da coisa, não tinha talento matemático suficiente para fazer vida dela. E de volta à estaca zero. De modo que voltei para Portugal e decidi experimentar a biologia marinha, também um velho bichinho. Esse foi até ao fim, mas aí chegado, e depois de passar dois anos metido num projeto de investigação pessimamente concebido e pior gerido, descobri que arranjar emprego na área era um sarilho quase insolúvel, a menos que quisesse ir bater com os costados nos Açores. Não queria, por vários motivos, a maioria familiares. E de volta à estaca zero, agora com um canudo no currículo.

Entretanto, desde a adolescência que escrevia. Às vezes razoavelmente. O suficiente para que, nuns jogos florais organizados na minha escola (e em que tive de ser quase obrigado a participar pelos meus pais), tenha arrecadado um primeiro prémio, um segundo e um terceiro. Com três textos a concurso, em duas categorias, poema e conto. Umas coisas muito teen, claro, mas pelos vistos deram para o gasto. Os contos já exploravam os mesmos territórios que continuo a explorar hoje: FC, fantástico, surrealismo, essas coisas. E continuei a escrever, embora exclusivamente para a gaveta e para a família, sem nenhuma vontade de publicar. Isso começou a mudar em 98, quando me comecei a envolver no pequeno mundo da FC portuguesa. Foi a partir dessa altura que comecei a publicar com alguma regularidade. Pouco depois fiz as minhas primeiras traduções, uns contos mais ou menos curtos para publicar no site da Simetria, e não me saí mal de todo. Mas tudo muito amador, sem qualquer perspetiva de vir a fazer vida disso.

A coisa mudou quando a Saída de Emergência apareceu e me incluiu no grupo de pessoas convidadas para traduzir uns contos do Conan. E eu traduzi-os o melhor que sabia, com o meu inglês em grande medida autodidata e o português que ia usando para escrever as minhas coisas. A editora gostou o suficiente para me passar para as mãos um romance histórico, A Cor do Céu, de James Runcie. De novo, fiz o melhor que pude, cheio de inseguranças e nos tempos livres daquilo que me ia dando na altura para ganhar a vida. Depois propuseram-me O Dilema de Shakespeare, do Harry Turtledove e eu, na altura desempregado e sem fazer a mínima ideia daquilo em que me estava a meter, disse que sim senhor. Foi quando consegui traduzir este livro sem que o resultado redundasse num completo desastre que pensei cá com os meus botões: “Espera lá, tu se calhar és gajo para ganhar a vida com isto.” E, realmente, desde essa altura que não faço mais nada. E aprendi que me fartei.


2. Por volta de que idade é que começou a ler com mais regularidade, e que livros mais o marcaram na sua infância/adolescência?

Eu já “lia” antes de ler. Os meus pais compraram-me aí pelos três anos uns livrinhos de capa dura muito ilustrados e com umas palavras a acompanhar, e eu chaguei-lhes o juízo sem descanso até que me ensinassem o que aquilo queria dizer. Quando cheguei à primária já trazia os rudimentos da leitura de casa, e depois nunca mais parei. Até aos 10-12 anos papei boa parte do Júlio Verne, os contos de Grimm e de Hans-Christian Andersen, a coleção quase completa dos Cinco, da Enyd Blyton e mais uma série de coisas. Ah, sim, e livros de divulgação científica com fartura, essencialmente álbuns ilustrados da Reader's Digest, sobre tudo e mais alguma coisa: fauna, flora, geografia, geologia, astronomia, etc. Depois descobri a ficção científica (que já conhecia do Júlio Verne, mas não sabia que era um género literário completo, com as suas regras próprias). A epifania deu-se com um livro detestado por muitos dos que o leram: A Nebulosa de Andrómeda, do Ivan Efrémov. Mas depois atirei-me à coleção de toda a gente da minha geração (e da geração anterior): a Argonauta. E nunca mais parei de ler FC, embora tenha deixado há muito de só ler FC.


3. Como ficção própria tem essencialmente contos. É um género literário que o fascina especialmente, ou simplesmente ainda não sentiu o ímpeto de escrever algo mais extenso?

Eu gosto muito de contos, é verdade. Sempre me atraiu aquilo que é possível fazer com o conto, desde que li coisas deliciosas como os Contos do Gin-Tonic, do Mário-Henrique Leiria, e várias coletâneas de vários autores anglófonos, em especial do Ray Bradbury. Há contos absolutamente maravilhosos por aí. É claro que também há romances magníficos, mas quando se pega num livro de contos não é muito comum que não se encontre algum que agrade, ao passo que quando um romance não agrada é todo o livro que desagrada. Ou seja: sinto mais segurança de que não vou perder completamente o meu tempo quando pego num livro de contos do que quando pego num romance.

De modo que é natural que quando me aparecem ideias literárias muitas delas sejam para contos. A maior parte não resultaria em romance.

Mas não é só por isso que escrevo contos. Comecei por escrever contos porque acho uma imprudência muito grande, uma enorme insensatez, que um candidato a escritor se atire logo aos romances (e das grandes sagas, como é costume ver-se na fantasia, nem falar) sem ter antes resolvido as armadilhas da escrita em extensões mais curtas. Sem ter essa tarimba, sem testar, em extensões que não exigem um grande investimento de tempo e esforço, a sua voz, o que resulta e o que não resulta. No fundo, eu encaro os meus contos como uma aprendizagem, acima de tudo. Uma escola. Algo que me informe sobre o que o talento que eu eventualmente tenha é capaz de produzir e como. Com os maus descobri o que não resulta para mim; com os bons (se há algum que o seja) o que resulta.

Mas já escrevi um romance. Começou por pretender ser mais um conto mas foi crescendo, crescendo, até que quando dei por ele tinha-se transformado num pequeno romance. Está publicado na net, em http://porvoslhemandareiembaixadores.blogspot.com/. Escrevi-o para me divertir, numa altura em que andava mesmo a precisar. E conseguiu, e ainda consegue. Mas eu tenho um sentido de humor a atirar para o bizarrote.

4. Entre as obras que traduziu, têm um claro destaque «As Crónicas de Gelo e Fogo» de George R. R. Martin. Como surgiu a oportunidade de traduzir estes livros? Já os conhecia de antes?

A oportunidade veio na sequência de traduções anteriores. Logo depois de acabar O Dilema de Shakespeare, o Luís Corte-Real, editor da Saída de Emergência, disse-me que andava de olho nessa série e que gostava que fosse eu a traduzi-la. Ainda houve um compasso de espera, durante o qual andei a traduzir Robert E. Howard, mas ele conseguiu fechar negócio para editar as Crónicas, e eu deitei mãos à obra. Ainda não conhecia a série. Na verdade, antes de conhecer os livros do Martin torcia fortemente o nariz às grandes séries de fantasia épica. Aquilo que tinha lido, que não era muito mas era alguma coisinha, parecia-me muita parra e muito pouca uva. Um género limitado, com alguma falta de imaginação e muito preso às convenções da cavalaria, dos magos e feiticeiros, do simplismo da dicotomia bem/mal. Pensava que bastava ler Tolkien e estaria tudo lido, de modo que não tinha nenhum interesse por pegar neste tipo de série. E continuo a pensar que, muitas vezes, as coisas são mesmo assim. Mas o Martin ensinou-me que nem sempre.

5. Qual é a sua opinião em relação à escrita de Martin? E é particularmente complicada de traduzir, ou já teve em mão trabalhos mais desafiantes?

A minha opinião em relação à escrita de Martin é a mesma de toda a gente, suponho. O homem escreve muitíssimo bem. Tem uma capacidade notável para prender o leitor à história e, acima de tudo, às personagens. Várias das personagens das Crónicas são autênticos golpes de génio, e a escrita serve a história duma forma praticamente perfeita. Não são todos, mas há capítulos naqueles livros que são da melhor literatura que eu li na última década. E sim, eu disse mesmo literatura.

Quanto à complicação da tradução, não é nada complicado. Para mim, traduzir Martin é um prazer: a coisa flui com toda a naturalidade. Eu explico esse curioso fenómeno assim: um tradutor é um reescritor. O que isto quer dizer é que, embora todos nós (pelo menos aqueles que tentamos fazer bom trabalho) façamos os possíveis para respeitar o estilo do autor original, todos nós temos também o nosso próprio estilo. Uma tradução, por mais fiel que seja, acaba sempre por ser uma fusão dos estilos do tradutor e do escritor. É por isso que não há duas traduções iguais: não há dois tradutores iguais. E o meu estilo adapta-se muito bem ao do Martin. Ou vice-versa, não sei bem. Não há luta; a coisa encaixa naturalmente. Consequência: todos os outros trabalhos de tradução que me passaram pelas mãos deram mais luta, ou seja, todos eles acabaram por ser mais complicados para mim.

Mas o mais complicado de todos foi O Dilema de Shakespeare. Acho que dificilmente traduzirei algo mais complicado do que esse livro. Deu-me muito gozo, tanto a tradução propriamente dita como o simples facto de estar a conseguir fazê-la. Mas ao mesmo tempo foi simplesmente infernal. Quem já leu o livro provavelmente entenderá porquê. Quem não o leu, aqui ficam algumas dicas: dezenas e dezenas de trocadilhos; trechos em inglês isabelino (i.e., o inglês dos tempos do Shakespeare), poemas com fartura, alguns com rima e com métrica... querem mais? O facto de não ter destruído esse livro é provavelmente aquilo de que mais me orgulho na minha carreira.


6. Existem certos dilemas com que um tradutor tem de se confrontar quando decide começar a traduzir uma obra: nomeadamente os conceitos, nomes de personagens, de locais… não é assim?

Depende do que está a traduzir. Há livros em que isso é importante e convém ser decidido de antemão, noutros não tem importância nenhuma. Entre os que eu traduzi, isso teve importância nos do Martin e nos da Hobb, mas não a teve nenhuma no do Turtledove e no do Runcie. Por exemplo. Mas mesmo quando conceitos e nomes não têm importância, todas as traduções são feitas de dilemas. As interrogações mais comuns na cabeça dos tradutores são: “que raio quer isto dizer?” e “como vou eu traduzir isto?” Uma tradução é uma longa sucessão de dilemas deste género desde que se começa a ler o original até que se acaba de rever a tradução.

Pelo menos é o que me diz a minha experiência pessoal. Pode ser que para outros tradutores as coisas sejam diferentes. Mas não creio.


7. Entre tudo aquilo que traduziu até hoje, existe alguma obra que lhe dado mais prazer do que as outras durante o processo?

Quase todas me deram algum tipo de prazer. Descobri ao longo destes anos que gosto mesmo do que faço. Espero que se note. Mas pontos altos, suponho, há três: O Dilema de Shakespeare pelo que já ficou explicado acima, as Crónicas do Martin pela fluidez com que o trabalho se processou (e também, não há que negá-lo, porque o nome que eu possa ter hoje como tradutor foi ganho aí), e A Criança Roubada do Keith Donohue por ter gostado muito do livro.


8. Para os leitores terem uma ideia, com que ritmo é que traduz um capítulo: uma semana, mais, menos, ou varia muito?

Varia muito. Varia, desde logo, porque o tamanho dos capítulos é variável. Também varia porque a minha velocidade a traduzir escritores diferentes também varia bastante. Por exemplo: sou rápido com o Martin mas bastante lento com a Hobb. E também varia consoante o prazo que tenho para concluir o trabalho: alguns dão-me tempo para descontrações (embora isso não tenha sido frequente), outros bem longe disso. Mas acho que nunca levei uma semana às voltas com um capítulo. O máximo terá sido uns quatro dias. E já tenho despachado outros em três ou quatro horas de trabalho.


9. Que autores lhe daria muito gosto de poder traduzir para a nossa língua, e que até agora não tenham sido editados em território nacional?

Autores inéditos? Hm… Gostava de ter oportunidade de traduzir a trilogia de Marte do Kim Stanley Robinson, por exemplo. Gostava de traduzir Greg Egan (embora tenha a impressão de que seria uma bela duma dor de cabeça). Gostava de traduzir Ian McDonald, que tem umas novelas de FC absolutamente espantosas. Novelas mesmo, não confundir com romances. E mais uma série de gente, da FC mais contemporânea que, ao contrário da fantasia, tem sido muito maltratada pelo público português neste início do século XX. Edita-se pouca e a pouca que se edita pouco vende. Comparativamente, pelo menos. Gostava muito, por exemplo, que o mercado português aceitasse bem a publicação das antologias de melhores do ano (sejam quais forem; as do Dozois, as do Hartwell, as Nebula Awards Showcase, seria ótimo ver qualquer uma em português) e alguém mas desse para traduzir. Há uma série de autores muitíssimo bons por aí, mas poucos são os que lhes pegam. E tenho pena.


10. Entramos aqui mais numa vertente mais de leitor: como pude confirmar pelo seu blog A Lâmpada Mágica, lê bastante! Seria possível fazer um apanhado das obras que mais gostou de ler em toda a sua vida?

Infelizmente, não leio tanto como gostaria (e como li noutras fases da vida). A pilha de livros para ler é imensa. A pilha, digo eu? As pilhas! No ano passado fiquei-me por 25 livros. Não é nada: houve fases em que li entre 50 e uns 80 por ano. Este ano vai melhor do que o ano passado, mas ainda anda a atirar para o fracote: até agora estão lidos 10.

Mas para apanhados estamos mal. Eu já li largas centenas de livros ao longo da vida. Acho mesmo que não me engano muito se disser que já me passaram mais de mil pelos olhos. Olhando para a coleção de livros de FC que tenho na estante aqui por cima, todos lidos, alguns mais do que uma vez, sim, é capaz de andar por aí. Se não foram mais de mil, anda lá perto. Portanto não dá mesmo para saber de que obras gostei mais no meio de toda esta fartura. Mas posso fazer um apanhado diferente: o das que foram mais marcantes para o leitor que sou. Pode ser? Então vamos lá.

Já falei do livro que me fisgou para a FC, A Nebulosa de Andrómeda. Também já falei daquele que me ensinou que nem toda a fantasia em série é mais ou menos clonada de Tolkien, A Game of Thrones, do Martin (embora o grande livro do Martin seja, claro, A Storm of Swords). Depois há Os Caminhos Nunca Acabam, do João Aniceto, livro que me mostrou, para minha surpresa, que também havia FC escrita por portugueses. E o livro nem é grande coisa. Há as Vinte Mil Léguas Submarinas, livro que me introduziu (se bem me lembro) ao Júlio Verne, o meu primeiro autor preferido. Há os Esteiros, do Soeiro Pereira Gomes, o único livro de leitura obrigatória da escola que realmente li, e que me ensinou, numa época em que só lia FC, que também havia boas coisas fora da FC. Há o Memorial do Convento, que me mostrou que havia um autor do caraças chamado José Saramago. E outros livros que me introduziram (ou abriram os olhos para) autores do caraças: Os Despojados, da Ursula Le Guin, O Homem Demolido, do Alfred Bester, A Torre de Vidro (ou terá sido O Labirinto? Não me lembro), do Robert Silverberg. Que Difícil é ser Deus!, dos irmãos Strugatsky, Solaris, do Stanislaw Lem, Memória de Elefante, do António Lobo Antunes (de que entretanto me fartei por completo), O Caçador de Brinquedos e Outras Histórias, do João Barreiros. E vários eteceteras. A lista é vasta. E está sempre a crescer. Essa é uma das melhores coisas que a literatura tem.

11. Criou há relativamente pouco tempo o projecto Bibliowiki. Qual foi o objectivo e os motivos que o levaram a construir a base de dados?

Não há tão pouco tempo como possa parecer. Aquilo que hoje está na rede descende de um outro site mais antigo, criado já vai para dez anos. O objetivo inicial foi fazer uma lista da FC que eu tinha em casa na época. Depois achei que talvez tivesse interesse público que se disponibilizasse na net uma bibliografia da FC produzida por portugueses, de modo que peguei na parte portuguesa daquilo que eu tinha em casa, fiz um site com ela e pus-me a acrescentar material. Depois achei que, já que estava com a mão na massa, podia perfeitamente ampliar a coisa por forma a abranger a FC que foi editada em Portugal. Aos poucos fui acrescentando também outras coisas de outros géneros fantásticos, não só de FC. Depois, o site esteve parado durante vários anos por se ter esgotado a rudimentar plataforma tecnológica em que assentava (e porque eu andava demasiado ocupado com outras coisas também, claro, o que voltou a acontecer agora). Depois descobri a wikipédia, ajudei a pôr em andamento a wikipédia em português, e levei uns tempos a pensar se um sistema de wiki não seria bom para voltar a pegar nesse projeto. Acabei por decidir que sim e, pimba, implementei-o. E depois comecei a incluir também material brasileiro.

Ou seja, o motivo foi achar que algo assim fazia falta e seria útil. O objetivo foi evoluindo ao longo dos anos. Mas o tempo é escasso, especialmente agora que tenho a família com problemas. Não dá para tudo, e o Bibliowiki tem sido, nos últimos meses, o elo mais fraco. Mas tenho pena. Se ganhasse o euromilhões, contratava alguém para trabalhar nele a tempo inteiro. Não há é meio disso acontecer.


12. No mês de Março demos destaque no Lydo e Opinado ao panorama da literatura lusófona, tanto em Portugal como no Estrangeiro. Considera que existem alguns preconceitos nos portugueses em relação aos livros nacionais e escritos na nossa língua?

Sim.

Ah, querem que diga mais coisas?

Pronto, então digo. Todos os leitores têm preconceitos. Muitos são baseados em más experiências passadas, o que em si mesmo não é preconceito, mas sempre que se generaliza uma má experiência para toda uma série de obras, já é. E toda a gente faz isso. Há preconceitos contra o mainstream, contra a fantasia, a ficção científica ou o fantástico, contra o policial ou os livros de auto-ajuda. Há preconceitos contra a literatura portuguesa, contra as traduções, contra a FC francesa, contra livros que não sejam americanos, contra edições de autor, contra livros americanos, contra livros do autor X ou Y, contra livros de contos, contra longas séries de romances., enfim, contra tudo e mais alguma coisa. Nisto, o mais ridículo é quando alguém diz “eu não tenho preconceitos”. É treta. Sempre. Basta que a pessoa tenha autores, géneros, seja o que for, que se recusa a comprar, ou que sejam sistematicamente preteridos a favor de outros, para ter preconceitos.

A mim nunca apanharão de livro de autoajuda na mão, por exemplo. Nem com romances cor-de-rosa, aquilo a que alguns dos meus amigos chamam, cheios de piada (ou não) “literatura para gajas”. É preconceito? Com certeza que sim. Se calhar até há livros desses que sejam bons. No fundo, eu não acredito que haja (lá está: o preconceito), mas quem sabe?

De igual forma, há preconceitos em relação a livros em português. Há portugueses que se recusam a ler em português. Justificam-se com as traduções serem más, como se fossem todas, e com o preço dos livros, no que até têm razão, mas o fundamental é mesmo o preconceito. Há preconceitos contra a literatura portuguesa, justificados por “os portugueses não saberem contar histórias”, como se nenhum soubesse, como se os livros fossem todos maus, como se não fosse publicada por cá também muita porcaria traduzida do inglês. Mas isto não teria qualquer importância se a soma de todos estes preconceitos individuais se anulasse. Isto é, se por cada leitor que tivesse preconceito contra livros portugueses houvesse outro com um preconceito igual de sinal oposto. Infelizmente, não é isso que acontece.

Depois há uma característica particularmente pateta em Portugal, que está longe de se resumir à literatura fantástica, ou até à literatura: a mania de que só pode haver um. À Highlander. Só pode haver um cómico no país, de modo que em tempos foi o Raul Solnado e ninguém ligava a mais ninguém, depois passou a ser o Herman, e todos os outros, Solnado incluído, foram esquecidos, e assim sucessivamente. Só pode haver um grande escritor, e metade do país diz que é o Saramago, a outra metade o Lobo Antunes, e os outros que se lixem. Só pode haver um grande escritor de literatura fantástica em Portugal, e é o Barreiros, de modo que o pobre do Luís Filipe Silva lá tem de se contentar com a sombra, e do Tércio e de todos os outros ninguém fala. Ou agora, que o Barreiros anda meio sumido, é o David Soares, e mais ninguém interessa.

Este fenómeno é particularmente idiota. Porque os outros também contam, e às vezes até se saem com coisas melhores do que as que faz o Highlander de turno. Mesmo quando ele é, de facto, melhor que os outros, o que nem sempre acontece.

Mas, por outro lado, a conversa do preconceito é com demasiada frequência usada para disfarçar incompetências e insuficiências várias. Ele existe, é verdade, mas não é tão grande como por vezes se quer fazer crer. E isto tanto se aplica ao escritor português, como à edição portuguesa, como à tradução, como a géneros inteiros como a fantasia ou a ficção científica, etc., etc. Tal como o preconceito, também é geral. É mais fácil culpar o mau gosto ou preconceito alheios do que fazer uma introspeção e perceber onde estão as nossas falhas. A velha instituição que é sacudir a água do capote. É mais fácil, mas muito menos produtiva.


13. Põe-se também a questão do trabalho de um tradutor ter pouco destaque, e raramente se assiste a críticas que valorizem o trabalho deste, limitando-se a falar do autor. Qual é a sua opinião em relação a esta “subvalorização”?

É negativa, claro. E não o é por eu ganhar a vida como tradutor: já quando nem sonhava em fazê-lo e escrevia as minhas críticas para o E-nigma fazia questão de mencionar a tradução sempre que o livro era traduzido. Porque sempre estive consciente de algo que parece passar despercebido à maior parte das pessoas: aquilo que nós lemos numa tradução não é o texto produzido pelo escritor, mas sim a interpretação que dele faz um tradutor. Se o tradutor fizer um bom trabalho, essa interpretação é fiável, mas se não fizer, não é. Muito antes de me tornar tradutor, o nome de quem traduziu certos livros influiu várias vezes na minha decisão de os comprar ou de os deixar na prateleira da livraria. E isso não se alterou quando abracei a profissão (ou a profissão me abraçou a mim; se calhar foi mais isso). Quando muito ganhei uma consciência mais aguda da dificuldade que a tarefa muitas vezes comporta, e por consequência uma maior tolerância com certas falhas.

Em todo o caso, parece-me que as coisas vão melhorando um pouco. De vez em quando vejo em críticas a livros que me passaram pelas mãos referências ao meu trabalho, e não só para referir algo de errado, como era hábito aqui há uns tempos, mas também para elogiar quando o opinador acha que é caso disso. O mesmo para alguns colegas meus. Até esta entrevista é sinal dessa melhoria. Era quase impensável, aqui há alguns anos, entrevistar-se tradutores, em especial tradutores ativos essencialmente na literatura fantástica, como eu. Isso deixa-me contente. Mas ainda há espaço para melhorias: há tempos, um blogue literário resolveu fazer uma eleição dos melhores do ano em tudo e mais alguma coisa. Até os booktrailors incluiu. O que foi que deixou de fora? Exatamente: os tradutores. É só um exemplo.


14. Está a trabalhar actualmente em alguma obra? E projectos na ideia para avançar num futuro próximo?...

Minha? Sim, estou a escrever um romance. Os condicionalismos de tempo de que falo acima também têm tido impacto sobre ele: gostava de ir já muito mais adiantado, mas ainda só tenho cerca de um sexto escrito. A prioridade, como é natural, é aquele trabalho que tem prazos a cumprir. E pagamento certo. Obrigado a ter até Maio cerca de 600 páginas prontas, não disponho de muito tempo para outras coisas. Mas de vez em quando lá consigo dar-lhe mais umas achegas. É muito diferente do primeiro. Muito mesmo. O primeiro era uma sátira apatetada, este de sátira tem pouco ou nada.

E outros projetos tenho sempre. Pode ser que algum se concretize, quem sabe, mas não faço ideia de quando. Até porque alguns, nesta fase, estão mais dependentes de outras pessoas do que de mim. Uma antologia brasileira em que, em princípio, terei uma pequena novela, por exemplo. A minha parte (escrever a novela) está feita. Quanto ao resto, é aguardar.

Então? Gostaram tanto da entrevista como nós? O vosso comentário é importante. Obrigado por visitarem o Lydo, e desde já muito obrigado ao Jorge Candeias por se ter disponibilizado a responder às perguntas! Não percam, a partir de Sábado, o passatempo «A Guerra dos Tronos». Ganha um exemplar do primeiro volume das Crónicas de Gelo e Fogo, traduzidas, aliás, pelo tradutor aqui entrevistado!

A Equipa do Lydo e Opinado
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