terça-feira, 26 de outubro de 2010

Memorial do Convento - Crítica

Nome: Memorial do Convento
Autor: José Saramago
Editora: Caminho
Páginas: 493

Sinopse: "Era uma vez um rei
Que fez promessa de levantar
Um convento em Mafra.
Era uma vez a gente
que construiu esse convento.
Era uma vez um soldado
Maneta e uma mulher
Que tinha poderes.
Era uma vez um padre
Que queria voar e morreu doido.
Era uma vez."


Para ser sincera, nem sei bem como começar esta crítica. No entanto, vou tentar começar pelo mais óbvio: a maneira diferente como Saramago escrevia. Ao início foi muito complicado para mim entender onde devia fazer as paragens e cheguei mesmo a ler as mesmas frases vezes e vezes sem conta para lhes tirar algum significado. Então, comecei a ler em voz alta. A certa altura, familiarizei-me com a escrita deste senhor e comecei a conseguir ler normalmente. Encarei a sua maneira de escrever como um contador conta as suas histórias: com algumas paragens, mas sem realmente haverem muitos pontos finais. Com falas pelo meio e sem referências a quem realmente está a falar. No entanto, com o hábito, aquele tipo de escrita tornou-se tão fácil para mim de ler como outro qualquer.

Todo o livro foi fácil de ler, excepto o capítulo em que José Saramago quis contar-me a procissão do Corpo de Cristo. Foram santos e mais santos, uns atrás dos outros. Ora, àquela hora da noite - eu costumo ler antes de me ir deitar -, confesso que me deixou muito ensonada. No entanto, para compensar a secura deste capítulo, Saramago presenteou-me outro capítulo, o mais belo de todos. Considerei-o até um dos mais bonitos que li até hoje, daqueles que nos transmitem cores, sensações, cheiros, sabores. Tudo muito misturado, especialmente quando existem três personagens que o estão a viver simultaneamente.

Apesar do título, sinto que a construção do Convento de Mafra ficou para segundo plano nesta narrativa. O que mais se destaca no livro é a relação entre Baltazar e Blimunda, passando por Bartolomeu Lourenço e o seu sonho de voar - sonho esse que vai unir estas três pessoas bastante diferentes umas das outras. E é esse mesmo sonho que acaba por os separar. O último capítulo foi fantástico, pelo menos para mim. Tocou-me de uma maneira profunda e deixou-me pensativa. Mais um clássico lido e nem uma desilusão!

Personagens favoritas: Baltazar Sete-Sóis, Blimunda Sete-Luas, Bartolomeu Lourenço, D. João V, Maria Bárbara.

Nota: 8,5/10 - Muito Bom

Sara

sábado, 23 de outubro de 2010

Os Livros Desafortunados


Tenho a sensação de já ter falado deste assunto aqui no blog. Acontece que alguns livros que escolhemos ler são mesmo uns desafortunados... até podem ser a melhor obra que já nos passou pelas mãos (e nesse caso então, o azar chegaria ao extremo), mas pelas condições em que são lidos acabam por ser, às vezes, recordados com um pouco de desgosto. Ao pegar em "Underground", de Haruki Murakami, há quatro dias não estava à espera de na manhã seguinte acordar adoentado, constipação forte essa que está a durar até hoje (mas já estou melhor). Eu, falando por mim, tenho a sensação de que os livros que são lidos enquanto estou doente, são sempre uns desafortunados...

Colocava ainda a pergunta aos leitores do blog se, além desta situação, numa outra também acontece efeito semelhante. Já aconteceu falecer alguém próximo de vós enquanto liam um livro? A leitura ficou manchada por esse acontecimento? Gostava de saber as experiências das pessoas. E desculpem tocar neste assunto, se alguém não gostar dele. Eu próprio me sinto um pouco incomodado com ele...

Tiago

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crítica - Sonho Febril

Título: Sonho Febril
Autor: George R. R. Martin
Tradutora: Ana Mendes Lopes
Editora: Saída de Emergência
Nº de Páginas: 386
Preço Editor: 19,61€

Sinopse: «Rio Mississípi, 1857. Abner Marsh, respeitável mas falido capitão de barcos a vapor, é abordado por um misterioso aristocrata de nome Joshua York que lhe oferece a oportunidade única de construir o barco dos seus sonhos. York tem os seus próprios motivos para navegar o rio Mississípi, e Marsh é forçado a aceitar o secretismo do seu patrono, não importando o quão bizarros ou caprichosos pareçam os seus actos. Mas à medida que navegam o rio, rumores circulam sobre o enigmático York: toma refeições apenas de madrugada, e na companhia de amigos raramente vistos à luz do dia. E na esteira do magnífico barco a vapor Fevre Dream é deixado um rasto de corpos... Ao aperceber-se de que embarcou numa missão cheia de perigos e trevas, Marsh é forçado a confrontar o homem que tornou o seu sonho realidade».

Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1982, esta obra de George R. R. Martin, muito anterior ao seu grande sucesso «As Crónicas de Gelo e Fogo», só agora é editada entre nós. Se tinha expectativas elevadas? Muitas. As Crónicas são responsáveis por esperarmos semopre muito de um autor que até então sempre nos surpreendeu. Este 'Sonho Febril', com a sua capa portuguesa maravilhosa, e sendo fantasia de George R. R. Martin já escrita há quase trinta anos, só podia prometer grandes coisas. Parti para a sua leitura entusiasmado e expectante.

Não me desiludi! É-nos introduzida logo desde o começo uma personagem que associaria como sendo tipicamente de Martin - Abner Marsh. Ao nível das suas melhores personagens de sempre, juntando com o TOP das presentes nas Crónicas de Gelo e Fogo. E é sob o olhar deste capitão que acompanhamos grande parte desta aventura. Este capitão tão peculiar e com o qual é tão fácil aprendermos a gostar da sua forma de ser. Descrito como o homem mais feio de todo o rio Mississipi, com os seus cento e cinquenta quilos e cara cheia de verrugas, tem uma maneira de ser muito forte e vincada. Esta personagem é responsável por 1/3 do gosto que tenho por este livro.

O dos 1/3 restantes estão no ambiente. Este mundo de meados do século XIX no rio Mississipi, com toda a história dos barcos a vapor, as cargas e descargas, as viagens atribuladas, as competições entre os barcos por um maior estatudo e fama... é simplesmente apaixonante. Dá vontade de lá estar a viver aqueles momentos. A descrição dos barcos, dos mais e menos luxuosos... identifiquei-me bastante com o ambiente descrito. Mágico e envolvente.

O último 1/3 do gosto não podia deixar de ir para o horror que caracteriza este livro. Não é uma história fácil, serena. Pelo contrário. Não se assustem os que fogem das modas quando eu disser que o tema principal do livro é exactamente 'Os Vampiros'. Agora reparem que há aqui uma grande diferença! Primeiro foi escrito muito antes da moda que agora houve. Depois, temos aqui uma dimensão mais palpável e assustadora destes seres. Longe de terem uma co-existência fácil com os humanos, ou de serem bonzinhos, ou de transformarem outros também em vampiros se assim o desejarem... temos aqui um conceito mais horroroso e monstruoso. Humanos e vampiros não se ligam, não se consideram iguais - e nisto há também uma constante referência à escravatura ainda existente na época, entre brancos e negros não se considerarem iguais. A comparação é feita constantemente! Atenção, aviso-vos: momentos de terror verdadeiramenre... repugnantes, diria assim. Perturbador.

Não querendo revelar spoilers, e não o vou fazer - adoro a posição que o tema "poesia" tem na obra. Entrando aos poucos na vida de Marsh, que no entanto nunca deixa de a chamar 'malditos poemas!', sentindo o contrário. Está muito bem conseguido.

Como pontos menos positivos tenho apenas o enredo da segunda metade do livro, que me parece um pouco mais pobre que a primeira. Quanto à tradução, embora boa na sua grande parte, tanto no princípio como no fim apresenta algumas repetições de palavras escusadas em sequências de frases muito próximas, e uma ou duas trocas de nomes que teriam ido lá com uma melhor revisão. Muito positiva, no entanto!

Fica pois a sensação que o livro correspondeu às altas expectativas que tinha criado, sem as ter no entanto nem ultrapassado nem ficado aquém. Uma obra que confirma George R. R. Martin como o meu autor preferido de fantasia, e que prova o poder que uma boa escrita tem de nos levar para longe do tempo e da realidade em que vivemos. Excelente!

Personagem Preferidas: Abner Marsh. Adorei!

Nota: 9/10 - Excelente

Tiago

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Novidades sob o meu olhar...


Chega Outubro e com ele uma série de novidades editoriais que são, por norma, as grandes apostas do ano. Entre os lançamentos deste ano, estes são os 4 livros que mais me estão a prender a atenção (do último ainda só conhecemos a capa e um pequeno excerto de três linhas, e nada mais!).
  • O Homem do Castelo Alto - Philip K. Dick
  • A Queda dos Gigantes - Ken Follett
  • Livro - José Luís Peixoto
  • Matteo perdeu o emprego - Gonçalo M. Tavares
Em princípio, estes quatro não me escapam - mais cedo ou mais tarde hei-de os adquirir e ler.

Tiago

domingo, 17 de outubro de 2010

Preso - Crítica

Nome: Preso
Autor: Tiago Mendes
Editora: [Não Publicado]
Nº de Páginas: 170


Esta crítica não vai conter todas as informações necessárias acerca do livro por várias razões. Primeira: Eu li o livro durante as aulas e nem sequer tomei atenção ao número de páginas, tentando que os professores não me apanhassem. Segundo: Foi o Tiago - sim, o Tiago aqui do Lydo - que o escreveu.

Comecemos então pelo início. O Tiago escreveu este livro para o NanoWrimo de 2008 e eu lembro-me perfeitamente de todos os comentários que ele ia fazendo, ao longo da sua escrita, quando chegava à escola. Eu sempre me senti curiosa para ler o livro e ele chegou mesmo a enviá-lo em documento Word, mas eu nunca arranjei tempo para o ler - e, por vezes, também me esquecia que o tinha n'Os Ficheiros Recebidos.

Até que ele o levou no outro dia para as aulas, já encadernado e prontinho para que eu pegasse nele e o lesse. Li-o em três aulas, ou seja, em quatro horas e meia.

Há momentos em que o Tiago se esquece que a história se passa na primeira pessoa e passa-a para a terceira, fazendo mesmo com que eu me confundisse um bocado. Mas foi quando me apercebi desse erro que deixei de fazer paragens e caretas para ele - sim, porque, enquanto o lia, ele estava ao meu lado. Para além desses pequenos erros, nota-se que, de vez em quando, ele estava a escrever a história um bocado à pressa pois existem erros de compreensão. Como, por exemplo, o facto de o personagem estar nu e, de repente, guardar uma pistola no bolso das suas calças. Mas isso eu compreendo bastante bem, pois também eu já participei num NanoWrimo. Existe sempre aquela pressão de, em cada dia, escrever cerca de 1.666 palavras para conseguir chegar ao fim do mês com as 50.000 palavras prometidas.

Para além destes pequenos defeitos, achei a história muito bem conseguida. O Tiago, mais uma vez, demonstrou-me que tem uma mente muito fértil e que a sua imaginação vai para além do imaginário. A sua escrita, naquela altura - sim, porque ele vai mudando de estilo - era fluída e muito fácil de compreender. Tendo conseguido criar uma história com pés e cabeça e com muito mistério à mistura, vou dar um Sete a esta obra ainda não publicada! Parabéns, Tiago.

Personagens favoritas: Afonso, Tiago (o primo), Luís.

Nota: 7/10 - Bom


Sara

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Crítica - Morreste-me


Título: Morreste-me
Autor: José Luís Peixoto
Editora: Quetzal Editores
Nº de Páginas: 60
Preço Editor: 12,11€

Sinopse: «Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora. Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.»

Existem autores que, num mapa mental meu, não me podem escapar num determinado prazo. Há aqueles casos em que digo «até ao fim do ano tenho de ler um dele...», ou então o critério mais geral «um dia tenho de experimentar...». José Luís Peixoto pertencia a esta segunda categoria. Assistira a uma entrevista com ele, na televisão, há aproximadamente um ano, e ficara curioso. Mas com o lançamento recente do seu novo romance - Livro - começaram a chover críticas positivas pela blogosfera. Nomeadamente, que Livro era a melhor obra portuguesa desde O Memorial do Convento, de José Saramago. José Luís Peixoto passou de imediato para a primeira categoria. Queria lê-lo até ao fim do ano. Só que ontem, numa ida à FNAC, deparei-me com a sua primeira obra, «Morreste-me», e não consegui resistir. Trouxe-o, e li-o em pouco mais de uma hora hoje à tarde (longe de mim desistir do Sonho Febril, o qual estou a gostar bastante! Fiz apenas uma pausa de um dia).

Quando as expectativas partem muito elevadas, é normal que se sinta um pouco de desilusão. E foi exactamente isso que senti. O livro, de sessenta páginas, é um relato comovente e pessoal sobre os sentimentos do autor em relacção à morte do pai. É realizada uma viagem, um reavivar de memórias, e vive-se e sente-se a dor. A dor. Ao longo do livro.

Pareceu-me natural lê-lo em voz alta. Um livro como este chama a fazer isso. Li-o, pois, expressando-me conforme as palavras mo diziam para fazer. Já tinha lido que era um livro com muita dor... e isso confirmou-se... mas também tinha lido que esta se entranhava no leitor de forma quase invasiva... e isso não senti. Aliás, achei o relato um pouco distante. Talvez pela minha ainda breve experiência de vida, senti-me um espectador de fora a assistir, e não fazendo parte, como esperava que viesse a acontecer. Não sei se por ser a primeira obra do autor esse sentido pudesse ainda não ter sido apurado na sua escrita. Depois disso escreveu mais 6 de prosa... que tenciono ler.

O ponto alto do livro é a própria escrita: foge às regras. Longe do convencionalismo que se assiste na grande maioria dos livros que lemos, apresenta-nos um estilo de linguagem meio alternativo, sem receios. José Saramago, António Lobo Antunes, valter hugo mãe, Inês Botelho, e agora José Luís Peixoto. Os três primeiros nunca li, embora saiba que apresentam também eles particularidades ao nível da expressão. Agrada-me este modo alternativo de encarar a linguagem!

No fundo fica um sentimento de que li uma narrativa tocante, poderosa na maioria da sua extensão, triste toda ela - mas que, pela elevada expectativa, não me surpreendeu e desiludiu um pouco. O primeiro que José Luís Peixoto escreveu foi o primeiro dele que li. Fica a vontade de ler mais da sua obra, porque sem dúvida estou curioso por o fazer.

Nota (0/10): 7 - Bom

Tiago

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vencedores do Passatempo 'Sonho Febril'!


E recebi o resultado do passatempo 'SONHO FEBRL', livro de George R. R. Martin, editado pela Saída de Emergência. A editora surpreendeu-me, apresentando o nome não de 1, mas sim de 3 vencedores! Entre as 188 participações (record no Lydo e Opinado!), pouco mais de dois terços apresentaram as respostas certas. Seguem-se então as respostas:

1- Abril de 1857
2- Casa da Plantação
3- Burgundy
4- Quatro.
5- Ouro/ Moedas de Ouro/ Vinte mil dólares em moedas de ouro.

E os vencedores são, por sorteio da própria editora:

Fernando Silva, de Alenquer

Patricia Dias, de Modelos

Inês Matos, do Lorvão

Parabéns aos três! Dentro em breve receberão nas vossas caixas de correio um exemplar deste livro de George R. R. Martin. Para todos os outros, muitos, participantes: obrigado pela vossa participação, e não deixem de ler o livro. Eu estou já na segunda metade do mesmo, e estou a gostar muito, como poderão depois ler pela minha crítica.

Uma última palavra de agradecimento à editora, por tornar possível este passatempo!

A Equipa do Lydo e Opinado

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nobel da Literatura 2010 - Mario Vargas Llosa!!


Eis que é divulgado o nome do Nobel da Literatura do ano 2010:

Mario Vargas Llosa

O escritor peruano é o galardoado deste ano pela Academia Sueca que atribui o Prémio Nobel. Ao meio-dia (hora de Portugal) foi divulgado como vencedor.

O blog Estante de Livros publicou um muito útil link que vos leva à totalidade da obra do autor publicada em Portugal. Este ano não são poucos os títulos que temos entre nós do recém eleito Nobel! Carreguem aqui.

A justificação por parte da Academia para atribuição do prémio foi "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos".

[Post em constante actualização]

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Crítica - Sobre a República (Fernando Pessoa)


Título: Sobre a República
Autor: Fernando Pessoa
Editora: ÁTICA (Guimarães Editora)
Nº de Páginas: 57
Preço Editor: Grátis com o jornal i

Sinopse: «Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos - porque estes contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos - de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regímen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República».


Este é um dos dez livros da colecção dedicada a Fernando Pessoa, que o ano passado saiu semanalmente com o jornal i, grátis. Já tinha lido cinco deles, e este agora tornou-se o sexto. Já o ano passado o tinha guardado especialmente para o ler durante o centenário da revolução da República, o que seria mesmo a calhar em relação ao conteúdo do livro. Além disso, juntando-se o útil ao agradável, a seguir a ler o maior livro do ano (Os Miseráveis - 1088 páginas), também sabe bem ler um dos mais pequenos - 57 páginas!

O que eu não estava nada à espera era de encontrar neste livro uma faceta de Fernando Pessoa que ainda não tinha descoberto... é que ao manifestar-se contra o modelo da República aplicado após o 5 de Outubro, o autor e exalta-se e não se poupa em insultos, chegando mesmo a "proferir" algumas palavras mais pesadas... não hesita em insultar os chefes políticos da época, principalmente Afonso da Costa.

Na maioria dos textos manuscritos, acontece existirem quase uma dezena de palavras por página com um "[?]" à frente, que tem como significado não se perceber se a palavra que está escrita é exactamente aquela. Não me parece que a abundância de símbolos destes ao longo de todo o livro se devam apenas à letra difícil de Pessoa. Fiquei com a ideia que o próprio autor tremia enquanto escrevia as palavras, porque o discurso, esse, não há margem para dúvidas que é tremido e exaltado.

Texto curioso de se ler na véspera do dia em que a República fez cem anos, porque mostra uma opinião legítima e negativa do acontecimento que está a ser tão falado a nível nacional. Pena que ninguém pareça lembrar-se da opinião de Pessoa neste momento, porque sem dúvida que os seus argumentos dariam pano para mangas... desde quando chama trapo à bandeira nacional, até "Vem o Senhor Afonso da Costa... aquilo é que é uma besta!", um livro que mostra uma visão da República pelos olhos de um intelectual insatisfeito da época. Curioso e interessante.

Páginas: 57

Nota: 6 (em 10) - Agradável

Tiago

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crítica - Os Miseráveis


Título: Os Miseráveis
Autor: Victor Hugo
Editora: MEL Editores
Nº de Páginas: 1088
Preço Editor: 21,50€


Pode acontecer que a opinião abaixo se torne desmesuradamente extensa; não seria de estranhar se assim o fosse, pois os últimos quatro meses passei-o com este romance de 1088 páginas. Vou-vos contar o princípio da minha experiência de leitura. Comecei a obra a 23 de Maio – a 26 de Junho, com um terço do livro lido, descubro que afinal a edição que tinha cortava longas partes e resumia outras. Comprei um volume único com toda a história e reiniciei a leitura. Em post de 27 de Junho, referia que a crítica poderia demorar, assim, “mais uns tempinhos”. Esses “tempinhos” acabaram por ser mais de três meses. Há muito tempo, diria anos, que não demorava tanto a ler um livro. É certo que era grande, mas não justificava três meses.

Os Miseráveis, do autor francês clássico Victor Hugo, era uma das obras que estava na minha mira desde há tempos. Não conhecia nada da história, absolutamente nada. E no entanto a curiosidade dominava-me sempre que ouvia o título. Quando o recebi nos meus anos, no princípio de Maio, soube de imediato que não conseguiria evitar a sua leitura nos tempos mais próximos. Aconteceu vinte dias depois, e o resto já expliquei acima.

Este romance é grandioso. Mas tenho de começar com uma expressão chave importantíssima para classificar a minha crítica: sentimento ambíguo. Victor Hugo não hesitou nas suas escolhas, e ao decidir misturar ficção com não ficção criou um texto irregular, principalmente para o leitor. Ou seja, o que me incomoda não são as primeiras cinquenta páginas, que se podiam resumir numa frase: “O bispo de Digne era um homem verdadeiramente bondoso e santo”, as quais são enchidas de pormenores, e ao longo da qual é descrita por completo a personagem do bispo, que acaba por ter um papel curto na acção. Não, não é isso que me incomoda, até porque gostei dessa parte. O problema está nas quarenta páginas da descrição exaustiva da Batalha de Waterloo, no livro “Parêntesis” que engloba uma visão do convento como “ideia abstracta” e “facto histórico”, nas vinte páginas sobre um extracto da história da França, as outras vinte sobre uma revolução que houve, sobre a gíria dos gaiatos franceses… etc. São de certeza às dezenas os devaneios que Victor Hugo faz para lá do necessário à história.

Quando ao autor apetece sair das personagens e do enredo, começa a divagar – e isto sempre com um respeito solene pelo leitor, com expressões como “permitirá o leitor que façamos uma pausa na nossa história”. E eu só a apetecer-me dizer “Não permito, continue lá”. Podia simplesmente passar à frente, mas isso seria ridículo, visto que eu próprio quisera ler a versão sem ser abreviada. E a verdade é que, no fim, os meus olhos passaram por cada palavra d’ Os Miseráveis! Mesmo que, em certas passagens mais políticas e de linguagem administrativa ou militar, o meu cérebro como que se desligasse para meio gás, e apenas ficasse com uma ideia geral do que estava a ler. Tinha que ser, porque se estivesse concentrado e entender cada detalhe do que estava a ser falado, a leitura durava-me quase até ao fim do ano.

Mas a história que temos como enredo é… linda. Arrebatadora. Em linhas gerais, a sinopse da história poderia ser qualquer coisa como isto: ao cair da noite, chega à cidade de Digne um homem de nome João Valjean. É um condenado aos trabalhos forçados nas galés, das quais agora foi libertado, e onde passou vinte anos preso pelo roubo de um pão e pelas sucessivas tentativas de fuga. Vem como um despojo de um homem, desolado e sem ânimo, disposto a enveredar novamente por uma vida no crime como único meio de sobreviver. Mas, eventualmente, a sua alma é iluminada, resultado de um encontro que é obra da Providência. E João Valjean torna-se assim um homem muito diferente… ainda assim um reincidente procurado, por ter roubado um miúdo assim que saiu da cadeia.

A obra tem momentos de beleza indiscutível. Um leque gigante de personagens, umas mais interessantes do que outras, é certo, que povoam as imensas páginas do livro. A miséria é um ponto de grande destaque, e vamos tomando consciência das injustiças sociais que existiam na altura. Por vezes são avassaladoras e comoventes, deixando-nos com uma sensação de impotência perante os problemas da sociedade, a pobreza extrema.

Para mim a obra divide-se em três fases de escrita, apesar de no livro existirem Cinco Partes. As primeiras duas formam uma escrita de acção e emoção que considero as melhores conseguidas de todo o livro. Da parte 3 a meio da parte 4 temos uma fase à qual não pude deixar de comparar a leitura de Os Maias, pela descrição dos ambientes, e o estilo de escrita que de certeza foi inspirar Eça de Queirós vinte anos mais tarde. E do meio da parte 4 até ao fim temos um terceiro estilo, que não consigo definir tão bem, mas que em parte mistura os dois primeiros.

A tradução portuguesa, também da época, está muito bem feita e inclui vocábulos clássicos, o que confere ao texto uma veracidade tal que parece que a obra foi escrita originalmente em português. A edição da MEL Editores também está bastante boa, tendo apenas encontrado uma porção ínfima de erros gráficos para o tamanho da obra!

É difícil continuar sem enveredar por caminhos que estraguem a surpresa a quem ainda não leu, e quanto a isso não há com que se preocuparem porque não o vou fazer. Está aqui um livro à minha frente com o qual passei um quarto do meu ano 2010, com o qual passei momentos de aborrecimento, momentos de entusiasmo, momentos de contemplação perante uma obra de arte da literatura. Está aqui à minha frente um romance de qualidade indiscutível, com desvios diria inoportunos para assuntos acerca dos quais não tinha tanto interesse, mas com uma pintura de fundo bem viva e marcante. Temos uma história que aborda vários temas em várias frentes, e que no fundo acaba por ser um ensaio do sentido da vida do Ser Humano. De nunca ser tarde de mais para uma alma se modificar.

Se aconselho? Sim. Um aviso, no entanto, desde já. Quem se aventurar na leitura deste romance de Victor Hugo, e fará essa pessoa muito bem, terá de ter a coragem e a força de vontade para não desistir. Não é uma leitura fácil em certos pontos, e de quando em vez lá o ritmo afrouxa e somos obrigados a ler devaneios políticos ou de outro cariz. No entanto, para aqueles que conseguirem prosseguir, encontrarão nesta obra momentos que valem pelos de aborrecimento, um enredo de fundo que entusiasma, numa linguagem não tão clássica como seria de supor. E quando chegarem ao fim terão uma opinião muito positiva sobre o que terminaram de ler. Não me tendo arrebatado, nem conquistado totalmente, cativou-me o suficiente para poder dizer que estou perante um clássico da Literatura Universal o qual gostei muito de ler. E que um dia, muito longínquo, desejarei com certeza relê-lo. Até lá, inspirar-me-ei em tudo o que resultou da minha leitura para, quem sabe, mudar um pouco a forma de ver o mundo.

Páginas: 1088

Personagens Preferidas: Jean Valjean, Epopina e Srª Thénardier.

Nota: 8/10 (Muito Bom)

Tiago

domingo, 3 de outubro de 2010

Visual renovado!


O Lydo e Opinado tem o prazer de apresentar aos seus seguidores, assíduos ou mesmo irregulares, um visual ligeramente renovado. Queríamos mudar qualquer coisa no blog, mantendo o mesmo esquema de cores. Acabámos por manter o mesmo fundo, o esqueleto mantém-se inalterado, e a mudança recaiu apenas sobre a imagem superior (o banner), e os botões do topo da barra lateral.

O nosso principal objectivo é actualizar o conceito do nosso blog. A frase por debaixo do título que tínhamos antes era: "Um blog sobre leitura: livros, e críticas aos mesmos. E, acima de tudo, um espaço para os amantes da leitura!". Achámos que, entretanto, as coisas tinham mudado. E este "livros, críticas, autores, passatempos, entrevistas, editoras, novidades literárias" reflecte melhor o que é actualmente o Lydo e Opinado.

Esperemos que as alterações sejam do vosso agrado. Se por algum motivo não vos entusiasma particularmente esta nova imagem, informem-nos através do vosso comentário. A mudança não é radical, mas a opinião dos visitantes é a que mais conta.

Tiago

P. S. Se andarem uns centímetros mais para baixo na página, poderão participar no passatempo que está a decorrer desde sexta-feira, relativo ao novo livro de George R. R. Martin editado em Portugal - Sonho Febril. Boa sorte a todos os participantes!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Passatempo - Sonho Febril


Eis que é dado início ao mais recente passatempo do Lydo e Opinado, em colaboração com a editora Saída de Emergência, no qual irá ser oferecido ao vencedor um exemplar do livro 'Sonho Febril' de George R. R. Martin - lançado hoje para as livrarias nacionais. Para participares basta preencheres o formulário abaixo.

As respostas às perguntas encontram-se todas no primeiro capítulo do livro, que poderás ler carregando aqui.

Relembro as regras básicas, de que apenas aceitamos uma participação por pessoa e por morada. Os dados que derem (nome, morada, e email) serão utilizados apenas caso sejam o vencedor; e eliminados de imediato após a determinação do mesmo. Apenas a administração do blog e a própria editora terão acesso aos dados. Acho sempre importante informar acerca deste destino dos dados para que as pessoas estejam cientes do destino da informação que dão - eu preocupo-me sempre quando participo em coisas assim.

A escolha do vencedor será feita ao acaso entre todos os participantes que acertarem às questões. O passatempo decorrerá durante cinco dias, terminando o prazo de participação às 23:59h do dia 10 de Outubro, um Domingo. Resta-me desejar boa sorte a todos!




A Equipa do Lydo
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