domingo, 18 de setembro de 2011

As Horas - Crítica

Nome: As Horas
Autor: Michael Cunningham
Editora: Público
Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues
Páginas: 219
Sinopse: "Em As Horas (primeiro título de Mrs. Dalloway), Michael Cunningham utiliza de forma imaginativa a vida e a obra de Virginia Woolf para contar as peripécias de personagens contemporâneas que lutam com as reivindicações contraditórias do amor e da herança, da esperança e do desespero. Segundo o modelo de Mrs. Dalloway, que se centra num só dia de vida da protagonista, o romance começa por evocar os dias anteriores ao suicídio de Virginia Woolf, em 1941, para, pouco depois, abordar a vida de duas mulheres de hoje nos Estados Unidos que tentam realizar-se e ter a vida que sempre quiseram, apesar das exigências de amigos, amantes e família. Clarissa Vaughan é uma editora que vive em Greenwich Village; conhecemo-la quando está a comprar flores para uma festa em honra do seu amigo Richard, um poeta doente com Sida que acaba de ganhar um importante prémio literário. Laura Brown é uma dona de casa da Califórnia do pós-guerra que está a educar o seu filho único e que procura a sua verdadeira vida fora do seu sufocante casamento. Com uma fácil e estranha segurança, Cunningham faz com que, de maneira inesperada e dilacerante, a vida de ambas as mulheres se entrelace com a de Virginia Woolf, no decorrer da festa de Richard. Michael Cunningham atravessa o século XX com uma narração clara, contundente e contemporânea, de um lirismo assombroso. Esta obra emocionante, profunda e comovente representa o melhor de Cunningham até hoje. Com ela o autor obteve os prémios Pultizer 1999 e o prémio PEN/Faulkner do mesmo ano."

Bem, com uma sinopse como esta mal é preciso escrever uma crítica acerca deste livro. Mas eu vou tentar fazê-lo na mesma e vou tentar não repetir as palavras escritas ali acima - o que eu acho que vai ser um bocado difícil, mas aqui vai.

É uma pena já ter visto o filme antes de ter lido o livro. Penso que só este pequeno pormenor estraga grande parte da magia da obra, pois já sabemos tudo o que vai acontecer. Sabendo isto, parti para a leitura da obra sem grande entusiasmo. No entanto, Michael Cunningham surpreendeu-me. Apesar de já saber o desenrolar de toda a história, ele tornou-a deliciosa de se ler. Ele tem um tipo de escrita fácil de compreender, com pensamentos pelo meio que se entranham em nós como se fôssemos as próprias personagens a perguntarem a si mesmas o que estará a acontecer. A partir do momento em que mergulhamos neste livro, conseguimos pôr-nos na pele de cada uma - todas elas diferentes e com as suas características.

Temos, primeiro que tudo, Virginia Woolf. Ainda não li nenhum livro dela, mas tenho ali Mrs. Dalloway para me matar a curiosidade e, sobretudo, entender melhor esta obra. Esta escritora, que tinha uma vida brilhante (tinha uma editora com o seu marido), começou a sofrer de alucinações e grandes dores de cabeça a certa altura. Tudo isso a levou a transformar-se numa pessoa estranha, sempre com medo de tudo e de nada, sempre a pensar em coisas que não cabem na cabeça de ninguém. Um dia, decide-se suicidar. No entanto, antes disso, escreveu Mrs. Dalloway, o tal livrinho que vai mudar a vida de Laura Brown, outra mulher completamente diferente - já para não falar na época em que se encontra. Esta, dona de casa dedicada, é, no fundo, muito mais do que isso. É uma mulher inteligente e com vontade de viver, presa a uma família que, apesar de amar, quer deixar para trás. Esta sua vontade de se libertar de tudo e de todos é, de facto, estranha, especialmente quando se tem tudo aquilo que sempre quis. Mas é aqui que reside a questão: será que chega? Depois existe Clarissa que, de certa maneira, parece ser a personagem principal do livro de Woolf - mas não é. Toda a sua vida também parece perfeita, mas nem tudo o que parece é.

Penso que é esta a parte mais importante do livro: o facto de o autor pegar nas vidas perfeitas de cada uma e estudá-las muito mais profundamente para mostrar a toda a gente que a superfície não é tudo. O resto do iceberg pode esconder muitas coisas - desejos, quereres, medos, paixões antigas. Que, mesmo com uma vida estável e presente, o passado paira sempre à nossa volta; e o futuro deseja-se sempre que seja melhor, mesmo parecendo que já temos tudo. O ser humano é assim, não é?

Michael Cunningham foi capaz de demonstrar que, às vezes, quando achamos que estamos felizes, finalmente percebemos que o estivemos apenas em algumas horas - horas essas que queremos que se repitam, mas que já não vão voltar. Novas virão, mas nunca iguais às anteriores. Porque cada dia que passa algo muda, mesmo parecendo que a nossa rotina é sempre a mesma. E nós só temos que aprender a agarrar essas horas e a viver ao máximo, para depois guardá-las e extrair tudo o que podemos aprender.

Personagens favoritas: Richard, Clarissa, Laura Brown, Virginia Woolf, Vanessa Woolf.

Nota: 7/10 - Bom

Sara

2 comentários:

Jojo disse...

Adoro o filme, é um dos meus favoritos!
Ainda não decidi se vou ler o livro ou não.

Carla disse...

Adorei o filme, mexeu muito comigo quando o vi. Tenho cá por casa o livro, mas tal como o Jojo não sei se o vou ler ou não. Fico sempre com o receio de me desiludir;)

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