terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Evangelho do Enforcado - Crítica

Nome: O Evangelho do Enforcado
Autor: David Soares
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 358
Sinopse: “Nuno Gonçalves, nascido com um dom quase sobrenatural para a pintura, desvia-se dos ensinamentos do mestre flamengo Jan Van Eyck quando perigosas obsessões tomam conta de si. Ao mesmo tempo, na sequência de uma cruzada falhada contra a cidade de Tânger, o Infante D. Henrique deixa para trás o irmão D. Fernando, um acto polémico que dividirá a nobreza e inspirará o regente D. Pedro a conceber uma obra única. E que melhor artista para a pintar que Nuno Gonçalves, estrela emergente no círculo artístico da corte? Mas o pintor louco tem outras intenções, e o quadro que sairá das suas mãos manchadas de sangue irá mudar o futuro de Portugal.

Entretecendo História e fantasia, O Evangelho do Enforcado é um romance fantástico sobre a mais enigmática obra de arte portuguesa: os Painéis de São Vicente. É, também, um retrato pungente da cobiça pelo poder e da vida em Lisboa no final da Idade Média. Pleno de descrições vívidas como pinturas, torna-se numa viagem poderosa ao luminoso mundo da arte e aos tenebrosos abismos da alienação, servida por uma riquíssima galeria de personagens.”

Esta obra, apesar de ter menos de quatrocentas páginas, tem muito que se falar, sem dúvida alguma. Apesar de estar dividida em várias partes – de uma maneira um bocado estranha, difícil de acompanhar -, sinto que ela está, maioritariamente, dividida em duas partes que não estão assinaladas: Nuno Gonçalves antes de ser pintor e Nuno Gonçalves depois de ser pintor. O livro começa, exactamente, com o nascimento da personagem principal que se torna em algo que ninguém está à espera. A partir daí, várias coisas bizarras acontecem, incluindo a maneira como Nuno Gonçalves consegue retirar prazer das coisas. Esta primeira parte, na minha opinião, é a mais misteriosa e a que dá mais suspanse à obra toda. Depois Nuno Gonçalves muda-se para Lisboa com o pai e é aí que percebe que se quer tornar pintor.

Nesta segunda parte, conhecemos um leque de personagens que, de certa maneira, têm certos capítulos reservados só para si. Alguns percebe-se perfeitamente porquê, outros só se percebem no final. Outros, senti que não tinham qualquer relevância para o livro, ou então não percebi certas partes que o escritor me quis transmitir. É aqui que encontramos os quatro irmãos (pelos vistos ainda há mais um que David Soares não refere): D. Pedro, D. Eduarte, D. Henrique e D. Fernando, cada um com uma característica forte para marcar a sua personalidade. Penso que os capítulos que foram dedicados a estas personagens foram os que eu gostei mais. A partir do momento em que se gosta de História, é impossível ignorar o trabalho que David Soares teve para tornar este retrato da nobreza o mais fiel possível.

Mas o autor não o faz só com a parte histórica. Ele pega em cada página, em cada pequena história que se insere no livro, e torna-a real. Como? Com as suas descrições fantásticas. Neste livro, nada é impossível de imaginar – incluindo os Painéis de São Vicente. Sempre pensei que descrever uma pintura fosse algo impossível, mas a verdade é que David Soares conseguiu ultrapassar a minha teoria. Com isto, todas as outras descrições, de pequenas e grandes coisas, se tornam numa espécie de melodia. Até as coisas mais medonhas e nojentas eu fui capaz de imaginar. David Soares criou uma imagem na sua cabeça e foi perfeitamente capaz de transmiti-la para a minha.

Mas falando agora nos Painéis de São Vicente: o tema principal do livro. É óbvio que Nuno Gonçalves, perturbado desde a sua infância, não vai fazer exactamente como D. Pedro lhe pede para fazer a tal obra. No entanto, apesar de certos elementos que se tornam claros, não percebi o porquê de toda aquela revolta do povo português contra os Painéis. Talvez isto seja falta de informação da minha parte pois, por acaso, nunca me tinha dado ao trabalho de ler algo acerca desta obra misteriosa. Não conheço a simbologia, tal como ninguém conhece, nem as teorias que são postas em prática. Desta maneira, sinto-me uma ignorante em relação a esta parte do livro. Mas também não me posso esquecer que estar na cabeça de uma pessoa do século XV é diferente de estar na minha.

Pois, essa foi outra dificuldade minha: meter-me na cabeça de todas aquelas personagens. Com algumas consegui. Com outras, nem tanto. E sinto que, ainda assim, certos assuntos que foram abordados ao longo da obra não foram devidamente explorados. Falo, especialmente, no Geronte. Mas isso vocês vão ter que descobrir o que é.

Personagens favoritas: Geronte, Maria, Nuno Gonçalves, D. Pedro, D. Henrique.

Nota: 8/10 – Muito Bom

Sara


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